” Troquei de canal para levar minha vida pra passear um pouco. Para soprar algumas nuvens. Para respirar melhor.”
“Não foi mágica, apenas uma mudança consciente de foco. Troquei de canal para levar minha vida pra passear um pouco. Para soprar algumas nuvens. Para respirar melhor. Ao permitir que o pensamento se dissipasse, abri espaço para mudar meu sentimento. O problema continuava no mesmo lugar; eu, não. Nós nos encontraríamos outras tantas vezes até que eu pudesse solucioná-lo, mas eu não precisava ficar morando com ele enquanto isso”, Ana Jácomo.
Quando não cabemos mais em determinada situação, não adianta protelarmos o inevitável. O que quero dizer é que não existe a hora certa, o momento exato, o tempo correto. Não existe mágica, como tão bem definiu Ana Jácomo. Não tem como marcarmos no calendário, escolhendo de olhos fechados e aleatoriamente o “start” da virada. E o que é pior, ficar riscando as datas anteriores ao “Dia D” com um x, como um condenado faz para se sentir mais próximo da sua liberdade.
O primeiro passo? Decidir, obviamente, que quer mudar. Esse já é meio caminho andado. Cinquenta por cento do processo. Saber-se descontente, requer maturidade. É como se saíssemos de nossos corpos e víssemos lá de cima nossas vidas. Como se fossemos espectadores de um filme onde somos protagonistas.
E mudar é fácil? Claro que não! É muito complicado, isso sim. Mesmo assim, renovar-se é preciso. Não somos plantas, com raízes fixas. Somos pessoas. E assim, por sermos, somos livres. Requer, impreterivelmente, vontade de fazer diferente, de sentir-se diferente, de experimentar a diferença, de lançar-se ao que difere de algo que não mais nos satisfaz, por um motivo ou outro.
Não adianta usar manequim 40 e tentar entrar no 36. Não adianta insistir em algo que não nos cabe mais, que não nos serve.
A mudança nos sacode, nos faz acordar para a vida. É como se fosse aquele primeiro café do dia, forte, depois de uma noite mal dormida. É um tapa nas costas, nada sutil, dado por um amigo, quando nos engasgamos. É a sensação de mergulho no mar em um dia não muito quente. É sentir-se vivo.
E não estou dizendo que temos que mudar diariamente. Refiro-me às mudanças que fazemos em nome da felicidade. Estas sim devem ser tão constantes e frequentes quanto forem necessárias. E mudar pode ser voltar no tempo. Pode ser mostrar-se arrependido. Mudar pode ser seguir adiante. Pode ser lançar-se para agarrar um sonho. Jogando-se com tudo, sem nem ao menos pensar se lá embaixo tem rede de proteção para amenizar a nossa queda. E se nesse processo todo de renovação, algo der errado. Recomece. Uma, duas, três. Quantas vezes forem necessárias.
Somos os próprios juízes das partidas que jogamos. Somos o dono da camisa 10, o técnico, o goleiro, o zagueiro, o volante. Somos até o massagista e o treinador. Se ganharmos o jogo, beleza, que bom, acertamos em nossas escolhas. Se perdermos, também está tranquilo, vamos aprender com isso, pensar em novas estratégias, tentar escolher melhor a próxima mudança. Faz parte.
Charles Chaplin definiu em uma frase o que estou tentando explicar: “Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre”. E mesmo que seja óbvio, não custa lembrar: só não somos capazes de mudar o passado. O resto é transitório. É alternância. Modificação. Mutação. Oscilação. Transformação. Transmutação. Variação. Vicissitude.
E que bom que é assim. Não estamos algemados aos nossos sofrimentos e angústias. Não estamos trancafiados em celas que condicionam nossa liberdade. Não, definitivamente não somos presidiários, reféns de nossas infelicidades. Se hoje não estamos bem, é reflexo de decisões que tomamos ontem. E, quem sabe, só quem sabe, não mudar tenha sido uma delas.
Desconfio que às vezes tememos as mudanças por medo das consequências que elas podem nos trazer. E assim, nos acomodamos. Deixamos de ser um camaleão e suas cores. Uma fusão de larva e borboleta, com direito a todas as suas possíveis e imaginárias metamorfoses.
Como tão bem nos esclareceu Dan Milman: “Toda mudança positiva – todo salto para um nível maior de energia e consciência – envolve um ritual de passagem. A cada subida para um degrau mais alto na escada da evolução pessoal, devemos atravessar um período de desconforto, de iniciação. Eu nunca conheci uma exceção”.