“Quem não agradece por pouco, não agradece por muito.”- Provérbio Estoniano
Eu me lembro do momento tão bem: eu estava saindo com um cara novo há alguns meses e passaria a noite com ele pela primeira vez. Até então ele não tinha me visto sem uma boa maquiagem, já que eu era sempre cuidadosa em estar sempre perfeita enquanto estava com ele.
Esta noite eu teria que tomar uma decisão. Eu poderia dormir ainda com a maquiagem ou poderia removê-la antes. Eu me sentia confortável o suficiente para deixa-lo me ver sem base, delineador ou rímel? Ele ainda gostaria de mim?
Para muitas pessoas isso não deve ser uma decisão difícil a se tomar (e verdadeiramente, eu não tenho nada contra maquiagem ou quem use), mas por mais de uma década eu constantemente me preocupei em alguém me ver sem maquiagem. Eu tive mais de uma década para construir atitudes pouco saudáveis em relação à minha aparência.
Qualquer momento que eu passasse fora de casa, de viagens a passar a noite com os amigos para paquerar, eu acordaria por volta das 05h da manhã para refazer minha maquiagem, voltaria para a cama para depois “acordar”.
Era exaustivo, mas era a única forma de eu me sentir confortável estando com outras pessoas. Ir à praia ou à piscina era uma verdadeira luta.
Eu me lembro desse momento em particular tão claramente porque quando ele me viu, a única coisa que ele disse foi “você está tão diferente”. O comentário em si não foi inteiramente negativo, mas eu também notei a linguagem corporal e o olhar dele. Vamos apenas dizer que não me fizeram sentir favorecida, ou bonita, ou vista. Só me fizeram sentir triste.
Deixando para trás a Incapacitante Autocrítica
Algumas vezes eu me sinto grata por aquele momento, o peso da minha insegurança era tão grande que eu sabia que havia uma escolha a ser feita. Eu repetiria esse cenário de novo e de novo em cada relacionamento, prendendo minha respiração e esperando o pior naquele momento crítico? Ou eu aprenderia a sinceramente me aceitar como eu era?
Não muito depois, eu parei de usar maquiagem, completamente.
Para ser honesta, tive muita dificuldade no começo. Eu estava tão acostumada a me sentir bem e confiante. Sem maquiagem eu me sentia deprimida e profundamente insignificante, já que estava enfrentando um sério problema de acne no momento. Eu tinha dificuldade até de olhar para frente enquanto caminhava, pois tinha muito medo de ser vista.
Eu me lembro de pensar comigo mesma durante esse tempo “tenha fé, tenha fé, tenha fé“.
E então, numa manhã, eu fui levada a ficar em frente ao espelho pousar uma mão sobre a barriga e outra sobre meu coração. Eu respirei fundo e disse pro meu corpo “Obrigada por cuidar de mim”.
Então eu toquei a pele das minhas bochechas para sentir seu calor e disse “Obrigada por sua resiliência”.
Então minhas mãos, meus dedos, meus pulsos: “Obrigada por sua força”.
E finalmente minha garganta, dizendo “Obrigada por sua verdade”.
Eu terminei o exercício com um simples “Obrigada. Eu amo você”.
Uma mudança de Perspectiva
Sempre que meu olhar crítico começasse a capturar o melhor de mim, eu voltaria ao espelho.
Obrigada. Eu amo você.
A parte mais poderosa do exercício pra mim foi sempre o elemento do toque.
Eu sempre achei tão fácil olhar rapidamente no espelho e ver somente o que não gostava. Minhas imperfeições se tornam mais difíceis de ver quando eu sinto as fortes batidas do meu coração e os músculos debaixo da minha pele que fazem a minha vida como eu sei que é possível. Uma espinha não parece tão importante quando meu peito sobe e desce debaixo da minha mão durante uma forte respiração.
Ainda tenho aquelas manhãs que acordo e não sinto prazer com o que vejo no espelho. Contudo, também tenho manhãs quando sinto completa gratidão pelo que meu corpo me permite fazer e por quem eu sou capaz de ser.
Eu agora tenho manhãs quando ao olhar para meus olhos no espelho ao invés de ver cílios pálidos, eu vejo bondade. Vejo coragem e determinação.
Obrigada por cuidar de mim. Obrigada por sua resiliência.
É incrivelmente fácil ser autocríticos, e tão incrivelmente vulneráveis para abraçar nossos corpos, espinhas e tudo mais. A próxima vez que você se sentir insegura, tente se reconectar com você mesma com um simples toque. O toque nos revigora com a energia que corre por nossas veias, nossa pele, nossos órgãos.
Obrigada por sua força.
Pouse uma mão sobre seu coração e a outra no seu estômago e respire fundo, inspirando e expirando, sentindo o impacto curativo da sua respiração em seu corpo.
Obrigada por sua verdade.
Diga isso várias vezes, por várias respirações, olhos abertos e fechados.
Quando estiver pronta, diga obrigada.
Quando estiver pronta, eu te amo.
________________
Traduzido e Adaptado para o site O Segredo por Ingrid Nascimento
Texto Original “A Simple Practice to Appreciate Our Bodies, Flaws and All”- Elizabeth McDonnell