Com o rolar dos anos as palavras de Nando Reis vão fazendo cada vez mais sentido. Principalmente quando ele fala em adaptação.
Nos anos que passaram, enquanto nós dormíamos. Em querer bem e ser esquecido. Em falar sem ser ouvido. Em não escutar o que tentam nos dizer. Em não se ter mais a “cara” que se tinha antigamente e não reconhecer a atual em um espelho.
E não é que ele tem razão também quando diz que quando a gente se toca dessa inadaptação, passamos a achar tudo tão estranho?
E daí na playlist da vida, quando a canção termina e começa outra, ele vem com aquela voz um tanto quanto rouca, me dizer que: vivemos atrasados, esperando que ainda dê tempo, de dizer que estamos errados e que entendemos. Que as nossas queixas são justificáveis (plausíveis, no mínimo). E que a falta que fazemos para muitos (aqueles que amamos), nesta semana, é como coisas que pareceriam óbvias, até mesmo para uma criança.
E ele nos faz questionar por onde andamos, no mesmo tempo em que somos procurados. E que nem nós ao mesmo sabemos o que nos faltava. E relembra (sem necessidade), tudo aquilo que se faz ausente e que na correria nem nos damos conta.
Segundo Nando, a falta é a morte da esperança. Compara ainda com seu carro, que o dia em que foi roubado, deixou uma lembrança.
Explica que a vida é mesmo frágil (reforço ainda, que como um cristal, quando quebra, não volta a ser como era). Mas tudo isso pode ser uma bobagem, uma irrelevância, “diante da eternidade do amor de quem se ama”. Mas fica sempre no ar: por onde andávamos enquanto éramos procurados? Quem sabe por aí, desviando de roupas e sentimentos pendurados?
E que não só ele, mas todos nós, deixemos de mentir. Que abandonemos os espinhos que nos causam dor, e que o inferno que nos atraiu seja ofuscado. Que saibamos nos despedir dos cegos do castelo (e de tudo que nos faz mais mal que bem), e que sigamos nossos destinos. A pé (ou da forma que for), até encontrarmos, um caminho, um lugar, para o que somos.
E que se o sono não vir, que fiquemos de olhos abertos, já que o sol nos esquentará sem que esperemos que um revólver venha explodir, pois em nossa testa se anunciou e, a pé a fé devagar, foge o destino do azar, que restou. Que sejamos olhados por quem possa e quem queira nos achar, e que este alguém, nos traga seu lar. Já que nós (como sempre fizemos), cuidaremos dele, e do jardim, do jantar, do céu e do mar. De quem estiver ao nosso lado, sem esquecermos de nós mesmos.
E mediante tantas incertezas, ele nos lança mais uma, que um tal de segundo sol irá chegar, mesmo que tantos dias sejam para nós muito mais cinzas que deveriam.
E que nessa chegada, conforme o poeta, a órbita dos planetas (e da confusão dos distintos universos que cada um de nós carrega consigo), será, finalmente, realinhada, derrubando o assombro exemplar, do que os astrônomos diriam se tratar de um outro cometa (ou de um outro turbilhão de monstros que nos atormentam).
E que brindemos as conversões da vida. E que a vida nos contemple em duplicidade com muita luz, oriunda de um ou dois sóis, em dias em que ela ardia, de maneira simples, sem explicação.