Tempo estranho esse, em que muitos estão atuando em vez de viver. Renato Russo já dizia que “mentir para si mesmo é sempre a pior mentira”.
Por certo, viver uma vida insatisfatória, com toques de ficção, está entre as mais absurdas dessas mentiras.
Sim, estamos certos de que a vida é cada vez mais exigente, mais corrida e a sensação de termos cada vez menos tempo para as coisas prazerosas nos esmaga todos os dias. Mas, e se pensarmos que uma parte desse desconforto acontece justamente porque estamos cada vez mais empenhados em prestar conta da nossa vida por meio de nossos posts diários? Ou se levarmos em consideração que muito do que buscamos é para provar que demos a volta por cima ou para sermos considerados bem-sucedidos perante a família ou na roda de amigos do fim de semana?
Há ainda a prisão de disfarçar os verdadeiros sentimentos por levar em consideração o que vão pensar sobre o que estamos fazendo ou a imposição de limites sobre nós mesmos para tentar prever o que vão pensar até sobre o que vai na nossa mente.
Quantas vezes nós nos fingimos felizes para que não saibam que algo deu errado em nossos planos? Ou sustentamos aquele sorriso sem brilho apenas para que não percebam nossas frustrações, arrependimentos ou insatisfações?
É o orgulho, medroso em se ferir, que muitas vezes fala mais alto e nos pede para não voltarmos atrás.
Além da vaidade, claro, que não nos permite mostrar que não estamos tão felizes assim, existe a necessidade de ser feliz a todo custo. Não se sabe se ela foi inventada agora, nesses nossos tempos de modernidade, mas o fato é que precisamos aparecer sorrindo, bebendo, dançando, festejando, passeando, divertindo-nos…
Parece que o roteiro da nossa vida se transformou em um grito permanente de “ação”, cujos diretores não somos nós. Vivemos a critério do outro, de acordo com as demandas que vêm dele.
Sejamos a favor apenas do que nos realiza como pessoas, esse deve ser o nosso filtro, a nossa balança. Todas as nossas ações devem ser pautadas no que acreditamos ser melhor para nós, não no que outros acham bom e atraente.
Talvez tudo isso seja apenas uma resposta involuntária, uma fuga das explicações que nos são cobradas diariamente. Temos medo do julgamento sim, temos medo do que falarão a nosso respeito. Mas talvez não devêssemos ter tanto medo assim, talvez fosse suficiente fazer a parte que nos cabe, agir de acordo com os princípios que nos regem e esperar que esses resultados digam respeito apenas a nós mesmos.
Quilos de maquiagem, mudanças obstinadas de visual, roupas novas, dívidas renovadas. A meta é ter tudo novo, todos os dias, e não ser feliz com nada disso. Fofocas sempre novas e aquela clássica pergunta “você viu o que aconteceu com fulano?” são uma supertendência.
A bem da verdade, não importa tanto o que as outras pessoas consideram chique, a autenticidade sempre será a atitude mais elegante de todas.
E assim crendo, poderíamos nos espelhar naquela canção que diz que “se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer”, porque sim o que a gente ganha ou perde, do que a gente desiste ou do que corre atrás, ninguém precisa saber (muito menos opinar).
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