É comum nos escondermos dessa realidade, porque, muitas vezes, temos medo de “sentir saudade”.
Viver é sentir saudade. O ser humano, instintivamente, tenta evitar esse sentimento. É mais confortável manter calmo o coração, afinal dizem que “o coração tem motivos que a razão não entende”. Não sei quem é o autor dessa frase, mas muito mais que um clichê, essa é uma verdade inquestionável. Eu, entretanto, diria que um desses “motivos” seria, sem dúvidas, a saudade.
Sem saída. É assim que nos sentimos quando a saudade bate à nossa porta. Ela chega de repente, sem aviso prévio. Às vezes, com um sorriso, outras vezes com lágrimas que irrigam a nossa alma. Certo é que a saudade sempre vem acompanhada, e numa bagagem perceptível. Uma pessoa que encontramos no trajeto para a faculdade ou para o trabalho, aquelas crianças que vemos brincando no parque ou qualquer outro local recreativo, o cheiro daquele perfume usado por alguém que passa por nós, aquela música que ouvimos e nos traz à memória momentos indescritíveis, algo que mudou nossa vida para sempre, de um jeito único. Certo é que, por vezes, somos encurralados pela saudade.
Em algumas situações, a saudade nos traz questionamentos, afinal, somos seres humanos, consequentemente, dramáticos, com histórias diferentes, porém com os mesmos sentimentos. Esses sentimentos não apenas unem pessoas, mas também impulsionam, inspiram e levam-nas a caminhos diversos. Isso, muitas vezes, causa dores.
Muitos, porém, tentam evitar a saudade, mas estão negligenciando um dos mais nobres sentimentos, e que nos mantém vivos.
Através desse sentimento, pessoas que já partiram continuam, de um modo especial, presentes em nossa vida, dividindo nossas dores, nossas lágrimas, ainda que afetados, de alguma maneira, por algo que não conhecemos. Isso é o que faz com que, muitas vezes, sintamos medo daquilo que é nostálgico.
O que precisamos, de fato, é tentar não dominar esse sentimento, pois “saudade é uma dor universal, quem ama, sente”. A saudade não nos domina, há um equilíbrio que mantém cada coisa no seu lugar. Nós dominamos a saudade e harmonizamos os demais sentimentos, para permanecermos racionais. É um processo evolutivo, inevitável. O desejo que vem com a saudade é “só mais uma vez…”. Uma vez um reencontro, um abraço, um carinho, um cheiro ou, quem sabe, um sonho?
Não há limites para a saudade, apenas projeção daquilo que se pode viver ao permitirmos que um sentimento bom entre no nosso coração. Ainda que seja por um breve momento. Cada momento é transformador. Transforma dor em sorriso e questionamento em respostas. Espaços são preenchidos e há um reencontro com a felicidade que talvez esteja por aí, perdida, distante.
Às vezes, reunimos forças para um suspiro de alívio dado ao medo de vivermos tanta emoção. É comum nos escondermos dessa realidade, porque, muitas vezes, temos medo de “sentir saudade”.
Por outro lado, sabemos, sem dúvidas, que uma mente saudável coloca tudo em seu devido lugar. Portanto, quer estejamos perto, quer estejamos distantes, tiremos aquela etiqueta que rotula a saudade como um sentimento de angústia e passemos a saborear a saudade como um alimento saboroso e nutritivo para a nossa alma e para o nosso coração, porque não há idade para sentir saudade.
Afinal, saudade tem forma, cor, cheiro e sabor. Sentir saudade é gostoso, sim. Por que não sentir saudades?
Direitos autorais da imagem de capa: Alexander McFeron/Unsplash.