Abrace as vontades e desejos trancafiados a sete chaves em seu coração. Largue o salto, coloque botas. Cavalgue rumo aos seus desejos mais íntimos. Livre-se do que esperam que você seja.
Muitas vezes, por ousarmos mudar, é que reencontramos a nossa essência. A felicidade não está na rotina descabida, no cumprir de horários e compromissos, no sorriso tímido e por obrigação no canto do rosto. Ela está no sentimento de liberdade, na sensação de euforia por desfrutar a adrenalina do imprevisto, na desconstrução de paradigmas e no importar-se menos com a opinião dos outros.
Não é de uma hora para outra. Muito menos, inesperadamente. É algo que amadurecemos, processamos, como um monstro que cresce descomunalmente dentro de nós, até que não há mais espaço para ele e para a nossa essência.
É como se um matasse o outro, numa grande luta de titãs.
O nó da gravata sufoca. A pilha de papéis em cima da mesa, de um monótono escritório, impede de ver a vida lá fora, que acontece muito além da pequena janela que nunca se abre, perdendo seu espaço para as pálidas luzes artificiais esbranquiçadas. Vermelho vivo, só o batom, carregado pelos lábios, na tentativa de disfarçar o bege da alma. As relações de conveniência passam a embrulhar o estômago. O salário no final do mês não paga o preço da realização pessoal deixada para um amanhã que nunca chega.
No calendário, os dias apenas passam. Um depois do outro, tão vagarosamente quanto as horas comportadas entre o registro de chegada e saída, de um relógio ponto.
O rosto no espelho, já não é tão jovem. Gosta-se mais de quem se era, que de quem se tornou.
Assusta-se com a ideia que já se viveu mais, que o que ainda se tem para viver. Teme a resposta da pergunta que se fazia outrora: será que um dia chegarei a ser aquela pessoa a qual me dispus?
E assim, num passe de mágica entristecido, não se reconhece mais.
É preciso dar o primeiro passo, nem que seja para recuar. A vida tem pressa, mas, às vezes, retroceder é o ponto mais importante para que se chegue onde quer chegar. Dar um basta, colocar um ponto final, para que, na sequência, novas reticências deem um tom de suspense a novas histórias.
Abrace as vontades e desejos trancafiados a sete chaves em seu coração. Largue o salto, coloque botas. Cavalgue rumo aos seus desejos mais íntimos. Livre-se do que esperam que você seja. Seja mais, seja leve. Ame-se em demasia. Acredite no seu potencial e deixe de potencializar as expectativas que os outros depositaram em você.
Redescubra-se. Ouse mudar, pois só assim, nessas chacoalhadas que a vida nos dá, é que temos a oportunidade de nos reencontrarmos com a nossa essência.
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