Quantas vezes não perdemos tempo tentando agradar aos filhos quando na verdade a única coisa de que eles precisam é o nosso afeto?
Mais complexo do que tentar agradar aos filhos é tentar agradar à sociedade. Quando os adultos se tornam pais, mães ou responsáveis por crianças, passam a ter suas ações e pensamentos analisados por todos à sua volta, é como se aquele corpo tivesse se tornado público, principalmente para quem adora dar “pitacos” na criação infantil.
Não é fácil assumir compromissos, trabalhar fora, administrar uma casa e criar os filhos. Sempre que o contexto atual dos pais é comparado ao contexto de gerações anteriores, vemos que existe um lapso e um grande equívoco: as gerações são completamente diferentes, tanto em questão temporal quanto em crenças e até mesmo em estímulos que recebeu ao longo da vida.
Se antigamente era comum os pais baterem em seus filhos, atualmente essa forma de violência é questionada de maneira veemente tanto por especialistas quanto pela própria lei. Sem estudos apropriados sobre o desenvolvimento infantil, muitas famílias acreditavam que estavam corretos em oferecer “limites” físicos e verbais às crianças que excediam a normalidade, impactando negativamente na forma como elas se comportariam no futuro.
Atualmente, muitos pais de gerações anteriores acreditam que as mudanças sociais têm feito com que os genitores se tornem “escravos” de seus filhos. Muito embora o termo seja de infeliz colocação, nem sequer retrata a verdade: os contextos históricos e geográficos, além do avanço da medicina e da ciência, impossibilitam relacionar e comparar criações diferentes.
O descontrole do consumo, a queda do poder de compra e a popularização da internet são fatores que influenciam diretamente nas mudanças atuais de criação infantil. Como muitos pais estão sobrecarregados com suas rotinas, usam presentes como estratégia para compensar os momentos em que não podem ficar perto dos herdeiros, em que perdem importantes evoluções dos filhos.
O psicoterapeuta e educador Leo Fraiman conta, em entrevista ao programa “Todo Seu”, que o grande segredo de acertar com os filhos é não substituir o afeto e a presença por bens de consumo. As crianças precisam ser vistas como indivíduos nessa sociedade, como parte importante da engrenagem da vida, mesmo que os pais usem os poucos minutos que têm ao longo do dia para isso.
Leo explica que, entre deixar o filho dormir mais e acordá-lo para tomar café da manhã juntos, escolha acordá-lo mais cedo. A condução de uma maternidade e paternidade neurocompatíveis é possível em momentos do dia a dia. Dizer ao filho que ele é importante, que você torce por ele e que sempre vai amá-lo, por mais que pareça simples, pode fazer com que se sinta amado e realmente querido.
Vivemos em uma sociedade que não sente culpa em apontar o dedo para o exercício de paternidade e maternidade dos outros, que quer a todo custo invisibilizar crianças, retirando-as dos espaços públicos e minimizando seu sofrimento ou questões. Crianças fazem parte da comunidade e precisam de força e reconhecimento, começando dentro de casa.
Valorize os esforços do seu filho, exercite esse momento de enxergar a criança, acolher suas frustrações e explicar como o mundo funciona. Use o tempo livre para sair com o filho para espaços públicos, saindo da bolha sempre que possível, mostrando outras realidades e criando uma rede de apoio para si e para a criança.
É possível praticar uma criação respeitosa, em que o grito, a violência e a agressão não têm espaço, e que aquela criança se torna consciente, evoluindo seu nível crítico e sua capacidade de compreensão de questões complexas presentes em nossa sociedade. Não diminua o sofrimento da criança, saiba como se impor e, sempre que possível, pare para enxergá-la.