Quando você era pequeno, provavelmente ouviu de seus pais a seguinte afirmação: “Filho, você não sabe o que é melhor para você!”
Aí cresceu e começou a entrar no mundo dos quereres, onde, geralmente, quem tem mais dinheiro se satisfaz mais.
Então, queremos ter mais dinheiro, pois assim poderemos satisfazer nossos quereres. Só que aí há uma falha fundamental que poucos percebem – eu percebi há pouco e isso fez mudar muito meu modus operandi na vida.
Eu não sei o que é melhor para mim. Simples assim.
Estou num processo de desconstrução de paradigmas, mas para que isso ocorra, são necessárias algumas colocações mais fortes, mais intensas, como um desapego muito grande e reconhecer que tudo que eu sabia me serviu para chegar até aqui, mas agora novos ciclos se iniciaram.
“Buscai primeiro o Reino de Deus e tudo mais vos será acrescido” (Mt 6,33), está escrito. Outras traduções das Escrituras Sagradas abordam esse mesmo tema de maneiras distintas, mas o cerne da questão é o mesmo.
Vamos a um exemplo prático: quantas vezes você já teve uma grande decepção, uma derrota para a vida, levou um tombo enorme e viu que tudo estava perdido?
Não era isso que você queria, mas dali surgiram soluções mágicas, aquilo fez você agir, mudar o rumo e, a partir do que você não queria é que um novo ciclo se iniciou na sua vida. Pode ter sido um novo relacionamento, uma nova carreira, um projeto engavetado que se tornou realidade… Enfim, aquela frase de vó: “Vá saber para que foi bom” cabe muito bem aqui.
O que achávamos ser o pior cenário se tornou uma bênção. Ou pode acontecer o contrário. Não sei se você já ouviu falar no mito do rei Midas. Resumidamente, ele queria ser muito rico, e pediu que tudo em que tocasse pudesse se tornar ouro. Seu desejo foi realizado, porém, era tudo mesmo, inclusive os alimentos, a água, ou seja, não deu boa coisa.
Pode ser que aquilo que você tanto deseja se torne realidade e necessariamente não lhe traga aquilo que queria inicialmente, ou até mesmo lhe traga algo ruim.
Aquilo que queremos é uma certa condição de neurose. Ao invés de perguntarmos constantemente “o que queremos”, surge uma nova linha de ação, mais conectada com o nosso verdadeiro ser.
Eu comecei a me abrir para as infinitas possibilidades. Como? Uma das maneiras é me perguntando e pedindo “o que é melhor para mim?”, buscando primeiro o Reino de Deus, aquele que está dentro de cada um de nós.
“Como posso contribuir melhor?” Pensando assim, comecei a receber ajuda dos mais diversos lugares, conectei-me com pessoas às quais nunca imaginei ter acesso ou conhecer. As coisas começaram a surgir e acontecer, a seu tempo, não necessariamente no meu.
Tudo passa por respeitar as vontades internas. Através dessa conexão inicial, tudo mais nos será acrescido.
Ao invés de perseguir loucamente um objetivo, passei a seguir a minha intuição.
Continuo planejando? Sem dúvida, ainda não cheguei ao ponto da evolução em que não preciso mais planejar algo, mas esse planejamento se tornou muito mais flexível, respeitando o que o Universo me oferece, seguindo uma oportunidade, conectando-me com quem me dá vontade, mudando o rumo, quando sinto que não é mais por ali e é por aqui que devo ir, sem neuroses, apenas deixando a vida fluir.
Não acredito na frase: “Deixe a vida me levar”, mas incorporei algo mais profundo no meu dia a dia, buscando estar mais atento aos sinais que o Universo nos envia, pois, se estivermos acessando o Reino, que está dentro de nós, tudo mais nos será acrescido.
As nossas ações — e é importante que se diga ações, pois sem movimento nada acontece — estarão sendo guiadas por uma força muito maior do que simplesmente nossa mente racional e nosso ego já desgastado por inúmeras crenças e medos que traz consigo.
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