Gil Wizen também é entomologista, biólogo especializado em insetos, e fez essa descoberta quando passava um tempo na Amazônia equatoriana.
O desenvolvimento da espécie humana, com suas cidades, prédios, automóveis e pavimentação, tomou o espaço do hábitat de muitas espécies, que a cada ano ficam mais próximas da lista das ameaçadas de extinção. Em muitos casos, a convivência forçada de animais e seres humanos acontece, mas nem sempre o desfecho é dos melhores.
A quantidade de insetos que ocupam imóveis em todo o mundo é alta, porque grande parte deles já não têm predadores naturais nas grandes cidades. Com isso, moscas, abelhas, aranhas, entre outras, reproduzem-se de maneira exacerbada, e sem controle ou local apropriado para viver, encontram espaços escondidos nos imóveis, próximos do que entendem como “seguros”.
Passando um tempo na Amazônia equatoriana, o fotógrafo e entomologista Gil Wizen descobriu algo que lhe renderia o prêmio de melhor fotografia de vida selvagem urbana de 2021. Hospedado em um hotel, ele percebeu muitas aranhas filhotes na parede, e quando foi checar de onde saíam, deparou-se com o “ninho” delas debaixo da sua cama.
Analisando-as com calma, ele percebeu que se tratava de uma Phoneutria fera, ou aranha-bananeira, considerada a segunda mais tóxica da espécie do mundo, encontrada em muitos locais da América do Sul, incluindo o Brasil. Em publicação no próprio Instagram, Gil contou que as patas da aranha chegavam a ser do tamanho de uma mão humana.
“Esta é uma foto que as pessoas gostam de odiar. Eu posso entender isso. É um pouco assustador encontrar uma das aranhas mais venenosas do mundo debaixo da sua cama? Claro que sim. Isso me impediu de dormir naquela cama? Definitivamente não”, disse o fotógrafo nas redes sociais.
A aranha-bananeira caminha pelo chão da floresta, principalmente à noite, em busca de presas que sirvam de refeição para si e os filhotes, como sapos e baratas. Seu veneno é considerado altamente tóxico, podendo ser letal para mamíferos, incluindo seres humanos, mas também pode ter usos medicinais, a depender das doses utilizadas.
A fotografia recebeu o nome de “O quarto da aranha”, e ele usou a perspectiva forçada para que parecesse ainda maior. No Brasil, a espécie só fica atrás da aranha-marrom no número de acidentes com humanos a cada ano, mas ela é considerada ainda mais agressiva, por isso os biólogos não recomendam criá-las em cativeiro.
Gil também usou sua fotografia para criar o diálogo sobre as espécies e sua inserção no meio urbano: “Eu quero que esta imagem seja um iniciador de conversa. O fato de uma aranha entrar em sua casa não significa que ela irá atrás de você. As aranhas estão constantemente ocupadas sobrevivendo, elas não têm tempo para nós”, reforçou o biólogo.
De fato, a aranha-bananeira só entra nas residências quando está em busca de alimentos ou de um parceiro para acasalamento, por isso não precisam ser atacadas imediatamente. Inclusive, especialistas orientam o dono da casa a acionar imediatamente o serviço de controle de animais, já que é uma espécie letal e ataca sucessivas vezes caso se sinta ameaçada.
Grande parte dos animais que entram em nosso espaço habitacional estão apenas tentando sobreviver, e sem predadores ou refeição, vão se mesclando ao ambiente urbano. Mas é sempre importante lembrar que isso não é culpa deles, o que podemos fazer é tentar manter uma relação minimamente saudável com cada espécie.