A prática da meditação “mindfulness” (“atenção consciente”) data de pelo menos 2.500 anos atrás, desde as origens do budismo. Desde então, ela já exerceu um papel importante em várias tradições espirituais.
A calma e a conexão com nosso eu interior que são cultivadas com essa meditação certamente são uma parte importante de uma prática espiritual, mas sentimentos de maravilhamento e assombro – o que sentimos quando nos vemos diante de uma vastidão incrível – também são fundamentais para a experiência espiritual. De acordo com uma pesquisa nova, a “mindfulness” pode criar as condições para o sentimento de reverência.
A atenção consciente é o elemento fundamental da experiência espiritual em várias religiões diferentes.
A reverência se define como um sentimento de assombro e fascinação evocado pelo encontro com algo maior que nós mesmos e que transcende nosso quadro de referências habitual. Pesquisas anteriores revelaram que a espiritualidade, a natureza e a arte são os caminhos mais habituais que nos levam a esse sentimento.
“Não podemos apreender [o objeto de nossa reverência] com nossas estruturas cognitivas – ele é grandioso demais”, disse ao Huffington Post o psicólogo Brian Ostafin, da Universidade de Groningen. “Por isso se faz necessária uma adaptação, mudar suas estruturas mentais para compreender o que é aquilo. Esse é o elemento crucial da experiência espiritual em várias religiões diferentes.”
Recentemente Ostafin realizou vários estudos que lançaram luz sobre a relação entre “mindfulness” e reverência, dois dos elementos básicos de muitas tradições espirituais.
Em um dos estudos, ele e seus colegas chamaram 64 participantes, estudantes universitários, para ver uma série de imagens e reagir a elas. Dois conjuntos de imagens foram mostrados a todos os participantes.
Um grupo de imagens foi usado para inspirar reverência (o Grand Canyon, montanhas majestosas, a Terra vista a partir do espaço), e o outro visava inspirar sentimentos positivos (gatinhos, flores, pintinhos).
Os participantes tinham que atribuir “notas” de 1 a 7 a suas reações de reverência e positividade.
Antes de ver as imagens, metade dos participantes ouviram uma fita de áudio de dez minutos de “mindfulness” e a outra metade ouvi uma fita de controle não ligada ao “mindfulness”.
As pessoas que participaram do exercício breve de meditação tiveram uma reação de reverência maior que o grupo de controle, em resposta às imagens que provocavam reverência ou respeito profundo.
Ostafin explicou os resultados como segue:
“O assombro ou reverência profunda envolve essa assimilação – abrir mão de suas estruturas cognitivas para acomodar [o objeto do sentimento de reverência]. E a meditação de mindfulness é um pouco isso também, porque a pessoa presta atenção e pratica a consciência não conceitual, desse modo ficando mais aberta à imensidão que está ali. Você sai de seu quadro referencial limitado, sai dessa ideia pequena do que é o mundo… Você deixa de estar preso em sua própria história.”
“A relação entre meditação e reverência também parece ser mediada pela acomodação”, disse Ostafin. Quando praticamos a meditação de “mindfulness” (cultivando uma consciência focada e não crítica do momento presente), tornamo-nos mais capazes de abrir nossas mentes para entender o sentido de novas vivências.
As descobertas lançam luz sobre o vínculo entre meditação e experiências espirituais e também sugerem que as práticas de meditação “mindfulness” podem ser eficazes para promover sentimentos de assombro e reverência, associados ao bem-estar e criatividade maiores e à redução de inflamações.
As descobertas foram apresentadas na conferência anual da Sociedade de Psicologia da Personalidade e Social, em Long Beach.