Como é preciosa a sorte de encontrar alguém que veja naquilo que dizemos algo que ilumine, inquiete, provoque, derrube certezas, desperte.
É daqueles presentes embrulhados em caixas inesperadas, envoltas em papel colorido e brilhante.
Poder ficar em silêncio na presença de alguém é dessas bonitezas da vida que só a mais delicada intimidade pode trazer. Aquele átimo de tempo suspenso, em que a respiração do outro nos acalma, o calor ou a frescura da sua pele nos apazigua e a presença é inteira, doce, querida. A quietude amorosa entre dois amantes é a comunhão das almas depois do encontro dos corpos.
Há, de fato, momentos em que as palavras são desnecessárias, descabidas, intrometidas, até. Mas, ah, como é bonito ver nos olhos de alguém um interesse vivo e autêntico pelo que temos a dizer. Como é preciosa a sorte de encontrar alguém que veja naquilo que dizemos algo que ilumine, inquiete, provoque, derrube certezas, desperte. É preciso que haja amor nos silêncios e também nos barulhos.
Somos todos barulhentos, afinal. Mesmo os mais silenciosos, quietos e introvertidos, têm dentro de si milhares de ruídos a serem interpretados.
Às vezes, acordamos cheios de inquietações profundas, outras vezes, são palavrinhas leves e sorrateiras que querem sair de nós e ganhar o mundo. E ainda que sejamos apaixonados pela quietude, quando temos algo a dizer, sonhamos com a companhia de alguém que nos ouça, de alguém que nos ajude a pensar em voz alta, de alguém que nos ajude a traduzir as inúmeras línguas que habitam a nossa “Torre de Babel” particular.
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E as palavras, essas criaturinhas inquietas e dúbias, antes de serem palavras, já foram seres mais alados e voláteis que elas próprias. Antes de serem palavras, essas meninas travessas já foram pensamentos. Pensamentos são ainda mais fugazes que as palavras, podem nos abandonar sem aviso, caso não recebam de nós alguma genuína atenção. Os pensamentos voam, como voa o tempo quando estamos nos braços de alguém que nos ame e a quem amemos de volta.
Encontrar nesse vasto e confuso mundo alguém que se apaixone por filosofar com a gente é tão raro quanto lindo. Dar ao pensamento as merecidas asas e deixar que as asas nossas toquem de leve as asas alheias, a fim de dar vida aos devaneios e interpretações das coisas profundas e tolas, é uma magia tão poderosa, mas tão poderosa, que uma vez experimentada não nos permite voltar a algo menos intenso ou mais óbvio.
Compartilhar desejos e fantasias, tanto físicas quanto emocionais, é tão forte quanto cálido. Oferecer ao corpo a possibilidade de partilhar o afeto que aquece e o prazer que arrepia, a fim de dar vida a sensações esquecidas, é da esfera das coisas místicas, e loucas, e belas que, tendo feito parte uma única vez de nossa existência, faz acordar em nós a alegria que nos desperta de um sono sem sonhos.
Conversar, filosofar e fazer amor, tudo com a mesma pessoa, é uma trilogia perfeita. É daqueles presentes embrulhados em caixas inesperadas, envoltas em papel colorido e brilhante. Eu tenho direito a isso, você tem direito a isso, a moça caminhando sozinha na praia, o homem sentado sozinho no meio do caminho… Todos nós temos direito a isso.
É preciso acreditar na possibilidade de esse sonho bonito se converter em realidade. É preciso estar desperto para reconhecer, de olhos fechados que, isso sim, é uma relação afetiva de verdade.
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