“Desculpe o transtorno, mas estou em obras”. Aprendi a me perdoar, a não passar horas, dias, meses, ou anos, me culpando.
Prometi a Deus que eu seria quem sou, que não mais me mutilaria, que não esconderia mais a minha essência e nem a diluiria mais. Prometi que recuperaria a minha integridade como ser humano, que não sofreria mais por não conseguir me enxergar, ou por não me segurar nos momentos mais devastadores. Talvez possa soar como uma promessa muito pretensiosa, mas minha alma sabe que não é.
Em alguns momentos, muito específicos, eu faço uma prece. Não são ladainhas, mas uma prece com a minha alma e com o meu coração.
Ter feito essa promessa não me isenta de falhar em muitos momentos, de me “diluir”’ em outros, mas eu não me esqueço do compromisso comigo. Lembro-me, em muitos momentos, de que sou pó. Lembro-me de que preciso ser algo aqui, lembro-me de que sou alguém em obras.
Muitas vezes, é isso que digo à minha alma, quando sequer há palavras: “Desculpe o transtorno, mas estou em obras”. Aprendi a me perdoar, a não passar horas, dias, meses, ou anos, me culpando.
Sempre que eu escrevo assim, na primeira pessoa, é a maneira que encontro para fazer você repensar sem que eu pareça pretensiosa ou alguém escrevendo sobre autoajuda. Exponho um pouco das minhas misérias e limitações, para que você possa, quem sabe, usar essa minha maneira particular de me tratar, para tratar a si mesmo.
Estamos em obras, daqui até o nosso final. Sei que parece um aviso ao outro, mas não. É a si mesmo, estamos em obras e há dias em que está tudo um verdadeiro caos. Não conseguimos nem entrar em algum lugar dentro da gente para tentar consertar as coisas. E nem sabemos como consertar.
Há dias tão nublados na alma que ninguém quer sair para fora de si, e é preciso se desculpar, é preciso se dar algumas chances, absolver-se em muitos momentos.
A relação mais louca é essa dentro de nós mesmos, nós estaremos conosco até o fim.
Digo a mim, uma, duas, três, incontáveis vezes: Desculpe o transtorno… primeiro como se estivesse dizendo para outra pessoa… mas estou em obras… digo algo óbvio, mas que minha alma precisa entender. Aprendi que minha alma é criança, e que precisa ouvir não apenas uma, mas várias vezes, que está tudo certo, para se sentir protegida, querida, envolvida. Aprendi que só eu posso dizer isso a ela.
Há dias de tanta sujeira, que nem toda água que a alma desaguar pode limpar.
Só resta o tempo, só resta a paciência, só resta um pouco mais de fé, em si, na vida e no infinito.
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