Eu não sei onde vou deixá-lo guardado aqui dentro. Não há mais lugar para você em mim. Não encaixa mais na vida que estou me propondo a viver.
Às vezes, não cabe mais nada. Nada além de mim mesma. Às vezes, cabe o mundo todo e mais um pouco.
É preciso um encontro com o nosso lado misterioso, feminino, sonhador, com o nosso lado mais secreto onde deixamos guardados a nossa essência, nossos sonhos e a nossa vontade de ser feliz hoje.
À revelia de todas as diferenças e de tudo que poderia dar errado, aqui estamos nós na expectativa de esquecer o que não queremos esquecer totalmente porque, como diz Fernando Pessoa:
“Quem ama nunca sabe o que ama… nem sabe porque ama, nem o que é amar. Amar é a eterna inocência e a única inocência é não pensar. E como passar pelos dias e noites quando o ser amado já não está ou já não quer mais estar?”
Como dizer ao coração que não deve mais amar? Que deve esquecer e como num ato de desprendimento e de apego à sua essência mais profunda, o voltar-se para dentro, reconhecendo-se merecedora de tudo o que é bom e de amor e tudo o mais que a imaginação mandar.
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Encontrei o amor outra vez numa noite de inverno. E, para mim, as noites de inverno eram todas aquelas em que não estava comigo até aquele momento. Durante muitas noites fiquei à sua espera. E, à chegada de novas cores, eu não percebi que já estavam à minha procura. Nem esperava que me encontrassem. De repente, pareceu-me ser ainda muito cedo. Mas o tempo tem dessas coisas.
Enquanto eu o esquecia, fui à vida e perguntei para mim mesma o que eu queria daqui para frente. Como resposta, vi o pôr do sol ao final do dia, como um cenário que eu ansiava ver sem você e, numa explosão de cores, percebi que não você fazia falta.
Agora que você não está, o meu jardim é todo para mim e posso compartilhar com quem realmente mereça a minha dedicação. Nos dias de primavera, já não sou o sítio para onde você pode voltar. Enquanto eu o esquecia percebi que há coisas que nunca mais farei da mesma maneira e nem sabores provarei como se fosse a primeira vez porque já provamos juntos e já não me interessa mais.
Contudo, percebi também que um pouco de mim que se foi contigo, hoje renasce em mim um eu diferente. Nem melhor, nem pior. Apenas diferente. E, assim sendo, nessa juventude quase infantil de um renascimento, instiga-me toda, do meu dedo do pé à ponta do meu nariz, a deixar o que foi e me propor ao que ainda será e o que já é.
Tiro os meus sapatos, desfaço-me do peso do que não preciso mais, e caminho sobre a relva do meu jardim a andar por aí descalça. Despida do que já foi e, sem nada, brinco com os raios de sol que me invadem ao lado de uma cesta de frutas e uma taça de vinho que brindo à mim, enquanto eu o esqueci.
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