Se eu quiser envelhecer tricotando, numa cadeira de balanço na minha varanda e olhando a tarde se despedir, qual é o problema nisso?
Há novidades o tempo todo direcionadas para públicos de todas as idades, principalmente o público adolescente e o jovem adulto. E, ultimamente, o público idoso (o qual sempre deverá ter nosso respeito), tem sido encaixado numa categoria um tanto curiosa: a da boa idade, a da boa vivência, a da boa alegria, etc, etc, etc.
Diga-se de passagem, que a expressão 3ª idade não é mais vista com bons olhos, pois para muitos denota “velho’ e ninguém quer ficar velho, não é mesmo?
Bom, isso depende do seu ponto de vista sobre o que é ser velho ou idoso. Entretanto, não é esse ponto que quero abordar. Em uma conversa com uma querida amiga, chamou minha atenção o que ela me disse:
“Quero envelhecer tricotando. Que mal há nisso?” E de repente, peguei-me mais uma vez numa reflexão.
Então, eu respondo: Pois é! Qual é o problema de querer envelhecer tricotando, indo à pracinha, jogando com outros amigos de longa data num fim de tarde e querer ouvir aquele amigo e antigo rádio? QUAL É O PROBLEMA? O QUE TEM DE ERRADO NISSO?
Eu sei a resposta: queremos a todo custo, obrigando até mesmo os nossos queridos velhinhos a serem jovens o tempo todo, a curtir coisas “ditas jovens “ o tempo todo, queremos que eles se vistam “joviais” o tempo todo, que se comportem como se tivessem 15 anos!
Já pararam para pensar o quanto isso se torna um tremendo fardo para eles, terem que cumprir a obrigação da eterna juventude? Já pararam para pensar que cada um dos nossos queridos velhinhos já teve sua história e que essa “forçação de barra” em torno deles somente os sufoca e até mesmo os entristece, quando não atingem as expectativas alheias de ser o eterno jovem de outrora?
Existe todo um padrão midiático ruim que elenca inúmeras coisas que um idoso tem que (leia-se: obrigado a fazer) ser e nunca “perder a juventude”.
Que cruel toda essa cobrança com eles e como desrespeitamos seu tempo! Ninguém é obrigado a se encaixar num padrão de vida ao qual se julga ser a mais vital e verdadeira e, devido a apenas ouvirmos o que a sociedade padroniza, vivemos dias cada vez mais fúteis, banais e desesperadores, pelo ideal de tudo: ideal de beleza, de carreira, de amor, de amizade, de vida, etc.
O idealizar egoísta, danoso e superficial nos empurra para um abismo louco e doentio e estamos querendo que os idosos também sigam à risca cada detalhe ou regra de uma cartilha absurda que criamos para eles, e uma dessas regras é a top das top regras: VOCÊ NÃO PODE ENVELHECER!
Para esclarecer, não quero dizer que um idoso não tenha que viver sem saúde, carrancudo, descuidado ou qualquer coisa parecida. O que quero dizer que eles têm o direito de envelhecer como bem entenderem e em paz.
Se eu quiser envelhecer tricotando, numa cadeira de balanço na minha varanda e olhando a tarde se despedir, qual é o problema nisso?
(Em Homenagem a Elisabete Emiliano: Muito Obrigada!)
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