Você já deve ter visto pessoas que parecem não ter nada em comum formarem amizades de anos a fio, casais opostos que não se desgrudam, parcerias profissionais entre polaridades distintas que dão tão certo e deixam o resto do mundo sem entender como.
Outros, que sempre ouviam ter “tudo a ver”, um relacionamento perfeito para quem está de fora, mas que se separam e deixam todos em choque.
Aparentemente, os primeiros teriam tudo para não se dar bem, mas se entendem. Enquanto os segundos, tudo fazem para terem uma afinidade perfeita, mas não conseguem conviver. A questão está justamente nessa palavrinha um pouco mais acima: aparentemente.
Tudo o que aparenta é verdadeiro? O que é aparente, afinal? A velha imagem da pontinha do iceberg, tão utilizada para definir a personalidade de uma pessoa, o que ela conhece de si mesma e o que está em seu subconsciente, pode ajudar aqui também.
Se o que é possível ser visto fora da água é um pedacinho, e o resto do iceberg que não se enxerga é enorme, vemos que o que está aparente neste caso só representa uma parte, bem pequena, aliás, do todo.
Sobre as partes que compartilhamos com as pessoas, acontece a mesma coisa. Existe o que se mostra nas interações sociais. Existe o que se é nas estruturas mais profundas de nossa personalidade.
Papel de parede é lindo, só não se sustenta sozinho
Às vezes parece que, para avaliarmos um relacionamento como perfeito, seja ele amoroso, de amizade ou até familiar, a ideia dessa perfeição viria da unidade…
…em que uma pessoa se identificaria com a outra completamente, onde as coincidências mostrariam como aquelas almas foram “feitas uma para a outra”, para fazerem juntos tudo aquilo o que mais gostam.
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Em um primeiro momento, quando este tipo de afinidade ocorre, a sensação é realmente maravilhosa e tudo parece perfeito. Até começarem a surgir situações em que a afinidade em outros níveis também é testada. Discute-se aqui o modo de pensar a vida, valores importantes, questões que envolvem caráter, ou simplesmente objetivos que caminham para lados opostos.
Por exemplo, se algo que é abominável para um é normal para o outro e isso faz com que eles ajam de formas diferentes no relacionamento, ferindo princípios de pelo menos um dos envolvidos, vemos que a afinidade era apenas superficial. Era pontinha que podíamos ver do iceberg.
Por outro lado, se pequenos gostos não são compartilhados, mas valores morais – ou pelo menos muitos daqueles considerados realmente importantes para cada um – são as bases da conduta e forma de pensar dessas pessoas, a afinidade ocorre em um nível muito mais consistente. Por isso mesmo não é qualquer desavença aparente que abala essa amizade, amor e outros laços. Mesmo que, conscientemente, nem saibamos ao certo os motivos de gostarmos tanto daquela pessoa.
Nosso cérebro é rápido e busca informações passadas para avaliar o presente. Temos uma tendência, explicada histórica e neurologicamente, de fazer julgamentos de pessoas e situações conforme o que já vivemos, vimos ou sentimos. Conforme o que se apresenta parece ser. Não há problema nisso. O problema é parar por aí. Porque ou a decepção, ou a perda de laços que poderiam ser bons, é certa.
Claro que ter afinidades nas esferas visíveis e mais facilmente perceptíveis é um grande ganho para uma relação.
Mas, elas são mais acessório que base, mais item de decoração do que estrutura de uma casa. Em escala de importância, primeiro os pilares, a afinidade do caráter. Segundo, as demais características.
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Não vamos fechar os olhos e julgar que as pessoas têm tudo ou nada “a ver”. Vamos com calma, dando tempo ao mar para mostrar como é o iceberg naquela parte toda que a gente não vê. No fundo, nossa intuição costuma nos avisar bem antes de qualquer mergulho.
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