Que possamos percorrer momento a momento, aqui e agora, e que “ficar em casa” não seja conflituoso, e sim necessário e libertador. É assim que deve ser.
A iminência de catástrofes, crises ou colapsos causa um rebuscamento geral, uma comoção sem distinção e muitas incertezas. Isso acontece porque, por mais que se saiba que da vida somos passageiros e que nunca estamos na direção, ainda guardamos, talvez inconscientemente, algum resquício de controle – ainda acreditamos que podemos prever acontecimentos ou evitar situações. A verdade é que podemos contribuir em algumas ocasiões com nossas ações, mas não somos capazes de controlar o desfecho final.
Estamos vivendo tempos difíceis, trocamos nossas saídas por isolamento e reflexão. Tivemos que aprender a administrar o tempo que consideramos sempre escasso, resolvemos limpar gavetas, faxinar os cantos, tivemos que lidar com tudo que sempre esteve presente, mas passava despercebido. Estamos cheios de informações, porém vazios de respostas e nos demos conta de que todas as nossas certezas até aqui sempre foram incertas.
Estamos ligados mais do que nunca pelas redes sociais, em nossos grupos, nos celulares, nas mensagens e correntes de orações e de conforto. Estamos procurando dar as mãos sem nos tocar, dar o colo sem nos encontrar. De um dia para outro, mais notícias sobre mortes, sobre falta de leitos, sobre tristeza. Também, na mesma velocidade, a solidariedade demonstra que é tudo que podemos fazer como humanos que somos… Então surgem postagens com atividades para serem realizadas em casa – para prevenção, para nos exercitar, para nos acalmar, para estar em paz.
“Fiquem em casa” agora é um mantra, hino ou um grito de socorro. Deixamos de valorizar tanto nosso dinheiro; tudo está fechado, não importa sua carteira, seu carrão, tudo fica estacionado, é “lar doce lar“, sendo este açucarado ou não. Os filhos em casa, os pais atarefados mais próximos deles, os avós mais assistidos do que nunca.
É o mundo dando as coordenadas, é a existência mostrando a impermanência de tudo e o quanto somos pequenos diante da magnitude universal.
Estamos tendo a oportunidade de nos conectar com o que realmente importa, estamos sendo obrigados a concordar que não é possível ter o mundo ao redor do umbigo e que é preciso soltar algumas mãos para salvar muitas. Estamos passando a enxergar por uma nova perspectiva, essa que não nos difere pelo que possuímos, uma vez que o vírus não seleciona por posses ou atributos – alguns adoecerão, outros cuidarão; uns passarão, outros, não!
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Ficar em casa talvez seja o que deveríamos fazer sempre, voltar para dentro, observando nossas condutas, assim como hábitos; limpar nossas mentes, assim como nossos armários e nos ocupar do que é verdadeiro e não do que é superficial e temporário. Nossa casa é solitária, mas tem tudo de que precisamos, nela nada amedronta, nada adoece, nada corrompe, nada perece. É só em casa que a união pode fazer a força e que o “juntos venceremos” ganha vida, mesmo que estejamos distantes do lado de fora.
Desejo, com toda a força que tenho, muito amor, fé e saúde para cada ser. Que saibamos tirar da vida o proveito que ela deve ter, que possamos usufruí-la a serviço da humanidade e não desgovernada ao nosso bel-prazer. Que possamos percorrer momento a momento, aqui e agora, e que “ficar em casa” não seja conflituoso, e sim necessário e libertador. É assim que deve ser.
E agora, mais do que sempre, fiquem em casa!
Direitos autorais da imagem de capa: Снежана/Pexels.