Mohamed Bzeek adota apenas crianças em estado terminal, proporcionando a elas o conforto e o cuidado que ninguém mais proporcionaria. É o único homem do seu condado a aceitar essas adoções.
Muitas crianças aguardam nas filas do sistema de adoção o momento em que finalmente terão um lar, uma família. Algumas, infelizmente, nunca saberão o que é partilhar a rotina e os momentos com pessoas adoráveis, que querem apenas o seu bem e se esforçam para vê-las atingir o seu melhor.
A maioria dos pais adotivos deseja uma criança dentro de um padrão que, dificilmente, existe dentro dos lares adotivos: bebês sem irmãos, na maioria das vezes, do sexo feminino. Raras são as famílias que aceitam crianças mais velhas ou com alguma doença ou deficiência. Para essas crianças, que fogem do espectro considerado “normal” pela sociedade, ter uma casa é um sonho distante.
Há mais de três décadas, Mohamed Bzeek age de forma completamente diferente da maioria das famílias adotivas, pois ele recebe apenas crianças em estado terminal, sabendo que logo elas vão morrer. O imigrante muçulmano, que reside em Los Angeles, Estados Unidos, afirma ao Los Angeles Times que já enterrou mais de dez crianças ao longo desses anos, algumas em seus braços.
O amor pela filha adotiva impressiona a todos que acompanham sua trajetória. Ele explica que sabe que ela não o ouve e não o vê, mas isso não significa que não tenha sentimentos, que não tenha alma.
Por isso, faz questão de sempre brincar com a menina, segurá-la, passando-lhe a segurança de que ela precisa para compreender que não está sozinha na vida.
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O Departamento de Crianças e Serviços à Família do condado de Azusa, onde Mohamed reside, monitora cerca de 35 mil crianças, sendo que aproximadamente 600 estão sob os cuidados dos Serviços de Gerenciamento de Casos Médicos, que atendem aquelas com necessidades médicas mais graves.
A administradora regional assistente da unidade, Rosella Yousef, explica que, nesses casos, existe extrema urgência em pais adotivos para adotar essas crianças.
Yousef revela que apenas Bzeek, naquela região, auxilia com essas adoções. Ele é o único homem do condado que leva as crianças que todos sabem que não vão sobreviver, por isso, sempre que têm um caso complexo, é o nome que cogitam, quando precisam de ajuda. Os infantes com problemas muito complexos são, normalmente, colocados em instalações médicas, com enfermeiras que atuam como tutoras ou se tornam mães adotivas.
Mohamed é pai-solo, ou seja, cuida das crianças sozinho, sem nenhuma ajuda e, mesmo exausto com a rotina, ainda assim é abordado pelos profissionais do Departamento de Crianças, que precisam de mais lares para outros casos complexos.
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Mas, atualmente, todo o seu tempo é empenhado no cuidado dessa filha adotiva, por isso não tem condições de receber mais crianças.
A filha, de 6 anos, nasceu com encefalocele, malformação raríssima, em que parte do cérebro se projeta por uma abertura do crânio. Logo depois que nasceu, os neurocirurgiões removeram o tecido cerebral que estava para fora do crânio, mas grande parte de seu cérebro permanece subdesenvolvido. A menina está sob os cuidados de Bzeek desde que completou um mês de idade.
Quando completou 2 anos, os médicos disseram que não tinha mais o que fazer pela sua filha, era sua sentença de morte. Bzeek decidiu adotar a criança e todos os médicos são unânimes em afirmar que ela está viva apenas por conta da dedicação do pai.
Antes dela, o homem já havia cuidado de outras três crianças na mesma situação.
Mohamed Bzeek, de 62 anos, nasceu na Líbia e se mudou para os Estados Unidos para cursar uma faculdade, em 1978. Anos depois, através de um amigo, conheceu Dawn, a mulher que se tornaria sua esposa. Em 1980, antes de conhecer Bzeek, inspirada em seus avós, ela havia se tornado mãe adotiva e aberto um abrigo de emergência para crianças que precisavam de colocação imediata ou que estavam sob custódia de proteção.
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Ele explica que Dawn nunca se assustava com as doenças ou deficiências das crianças, nem mesmo com a possibilidade de morrer. Os Bzeeks abriram sua casa para dezenas de crianças, deram aulas para pais adotivos, ensinando-os a lidar com a morte e com a doença rara de uma criança nas faculdades comunitárias. Dawn era uma das mais conceituadas mães adotivas da região, seu nome apareceu em forças-tarefas estaduais para melhorar o cuidado adotivo.
Em 1991, Bzeek viu seu primeiro filho adotivo morrer.
Filha de uma trabalhadora agrícola que respirou pesticidas tóxicos durante a gestação, nasceu com sérios problemas na coluna, usava gesso e ainda não tinha completado um ano quando faleceu. Talvez a maior dor que Mohamed possa ter sentido, segundo ele.
No meio da década de 1990, os Bzeeks decidiram cuidar apenas de crianças com doenças terminais, que nem sequer tinham o direito de ser ressuscitadas no hospital, porque ninguém mais as queria.
Um dos filhos que adotaram tinha síndrome do intestino curto, que o impossibilitava de consumir alimentos sólidos. Chegou a ser internado 167 vezes em seus 8 anos. Mesmo com essa doença, a família fazia questão de sempre colocá-lo à mesa, durante as refeições, para que se sentisse parte do todo.
Bzeek conta que o mais importante é amá-los como se fossem seus próprios filhos, e que sabe que estão doentes e vão morrer, mas faz o seu melhor e deixa o resto com Deus. Adam, único filho biológico de Bzeek, nasceu em 1997, com doença dos ossos quebradiços e nanismo. Ele nunca se sentiu chateado com as doenças de seu filho e afirma que foi assim que Deus o criou. Atualmente, Adam cursa Ciência da Computação e é o melhor aluno de sua turma.
No início dos anos 2000, Bzeek e Dawn acabaram se separando por desentendimentos no casamento, ela sofria de fortes ataques que a adoeciam por dias, o que acabou desestabilizando a união. Pouco tempo depois do divórcio, ela faleceu. Ele explica que, quando se tratava da doença de seus filhos, ela sempre era a mais forte dos dois.
Ela precisa dormir sentada, pois usa tubo para respiração e alimentação, para não correr o risco de se engasgar. Mohamed dorme todas as noites ao seu lado. Mesmo que sua condição seja complexa, ela não leva uma vida apenas de sofrimento, é possível compreender quando deseja algo, mesmo que não fale, e consegue esboçar sorrisos, quando está realmente feliz.
Mohamed é licenciado pelo condado para cuidar de crianças clinicamente frágeis e recebe cerca de US$ 1.700 por mês, pouco mais de R$ 9.300, mas isso não lhe dá o direito de tomar nenhuma decisão médica por seus filhos adotivos.
Mohamed Bzeek, por mais de 30 anos, dedica sua vida a cuidar de crianças que ninguém mais deseja, já condenadas à morte. Um grande exemplo de bondade e altruísmo!
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