Hoje, compartilhamos uma história emocionante, que mostra que nós somos seres com capacidades ilimitadas de superação, e que quando encontramos a nossa força interior, nenhum obstáculo que a vida coloca em nosso caminho pode nos parar.
É a história de Nadine Taleis, uma haitiana cega, refugiada, que veio para o Brasil pouco depois do terremoto que atingiu seu país, Haiti, em 2010. As citações foram retiradas de uma entrevista de Nadine ao site BBC.
Ele chegou até aqui depois de passar pela República Dominicana, Equador e viajar de ônibus até a fronteira do Peru com o Brasil. Acreditava que a situação econômica do país estaria melhor, mas ao chegar se surpreendeu com a forma como os imigrantes eram recebidos.
“Não pensei que situação fosse ficar tão precária no Acre. Mas aprendi muito ali, me ajudou muito a crescer.”
Nadine estava enfrentando sérias dificuldades no país, e vivia em um abrigo improvisado em um ginásio com capacidade para 200 pessoas, mas que abrigava mais de 1.300, perto de um esgoto a céu aberto. Essas pessoas viviam ali enquanto esperavam a documentação para viajar a outras partes do Brasil ou serem contratadas por empresários que visitavam o abrigo em busca de mão de obra braçal.
Pelo fato de ser cega e muito magra, Nadine não tinha sorte nas seleções, e seu desejo de trabalhar como massagista, ocupação que aprendera na República Dominiacana, país para o qual fugiu depois do terremoto no Haiti, estava cada vez mais distante.
Um dia, a haitiana recebeu de um funcionário do abrigo a proposta de viver com um casal de Brasília, o funcionário lhe explicou que lá ela teria mais oportunidades de seguir a sua vida, e quem sabe até de estudar. A jovem, órfã desde criança, aceitou a proposta e foi para o Distrito Federal.
Ela viveu com o casal Carlos e Loide Wanderley, e criou um vínculo muito especial com eles, que sempre a trataram com muito carinho e respeito. Nadine se refere ao casal como pai e mãe, e tem uma profunda gratidão pelos dois:
“Sem eles teria sido muito difícil conquistar o que conquistei”, diz.
As dificuldades financeiras e a falta de comida
Nadine conseguiu entrar no curso de direito na Direito da Faculdade Mauá, na cidade-satélite de Vicente Pires, e usando o dinheiro que ganhava dos tutores para se alimentar e pagar um quitinete, ela quitou as primeiras mensalidades. No início, os tutores não sabiam que ela estava indo à faculdade, porque Nadine não queria que eles se sentissem pressionados a lhe dar mais dinheiro.
Para economizar, ela passou muitos dias sem comer. Esperava pelos domingos quando os pais brasileiros lhe traziam comida. Mas a situação mudou quando a faculdade conheceu sua história e decidiu oferecer à Nadine bolsa integral e também um estágio na própria instituição. Só depois disso os pais ficaram sabendo que ela estava fazendo faculdade.
Devido às limitações de sua visão, ela gravava as aulas e estudava com a ajuda um aplicativo que lia os livros para ela. As provas eram um grande desafio, porque dependia da ajuda dos colegas para ler as questões para ela:
“Se tiver uma vírgula e a pessoa não der a ênfase certa, você erra a questão.”
Além dos desafios físicos, ela também tinha que lidar com racismo e xenofobia frequentemente, mas foi mais forte do que tudo isso, conseguiu aprovação em todas as matérias e se preparou para realizar o exame da OAB, que aconteceu em junho de 2018.
Sabendo da dificuldade da prova, ela sabia que podia não conseguir, mas foi muito bem na primeira fase. A ansiedade para a segunda fase do exame deixou Nadine doente, mas novamente ela se superou e passou:
“Estava em casa, com febre, quando uma amiga me ligou: ‘Nadine, cadê o churrasco?’ Eu respondi: ‘Como assim, churrasco? Eu nem sei se passei’. E ela: ‘Você já passou, acabei de ver seu nome, parabéns!’ Foi um dos melhores dias da minha vida.”
Comemorando essa nova fase da vida, Nadine pretende prestar concurso para a Advogacia-Geral da União (AGU), e acumular conhecimento e experiência necessários para se tornar juíza, o seu grande objetivo.
Uma história realmente linda e muito inspiradora. Mesmo com uma jornada de grandes dificuldades, que fariam muitos desistir, Nadine sempre seguiu em frente, mostrando que sua nacionalidade, cultura, condição física e financeira não são empecilhos para aqueles que acreditam em si mesmos e em sua capacidade de vitória.
Muitas energias positivas para Nadine em sua nova vida!
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Entrevista dada à BBC.
Direitos autorais da imagem de capa: Arquivo pessoal