Michelle mora em uma casa de madeira, sem piso, sem guarda-roupas e o saneamento básico não chega ao seu bairro, mostrando a desigualdade social.
A educação não deveria ser encarada como um luxo, mas como uma necessidade básica a que todos os cidadãos têm direito. A maioria das constituições federais preveem que os indivíduos tenham direitos básicos atendidos, como alimentação, moradia, educação, segurança e saúde. Mas, ao mesmo tempo, todos esses serviços são precificados, e quem não tem dinheiro acaba sem eles.
É o mesmo que dizer que quem não tem dinheiro não merece se alimentar, não merece ter um teto ou mesmo viver. A desigualdade social é capaz de apresentar facetas complexas do mesmo sistema, como a tendência à riqueza aumentar enquanto o número de pessoas abaixo da linha da pobreza também aumenta. Como pode ser aceitável que pessoas tenham rendas bilionárias enquanto outras não conseguem nem o mínimo para sobreviver?
Essa é a realidade de Michelle Ríos, que mora na periferia de Concordia, na Argentina. A menina de 12 anos, segundo reportagem do La Nación, precisa se levantar todos os dias antes mesmo de o sol nascer, já que precisa enfrentar uma caminhada de duas horas até a escola. Sua casa é de madeira e nem sequer possui piso, várias vezes ela chega a tropeçar nos buracos que os cachorros fazem no chão.
Michelle precisa sair de casa às 6h, se quiser chegar a tempo à escola, já que sua longa caminhada exige disposição. Durante o tempo caminhando, metade é só dentro do campo, sendo que no inverno ela chega a ficar completamente molhada por conta do orvalho que as plantas guardam, que acaba tocando suas roupas.
O esforço, que começa ainda em casa, só é mais leve porque a criança tem o sonho de se tornar advogada, por isso quer concluir seus estudos da melhor maneira possível.
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O bairro onde Michelle mora está abandonado, sem esgoto ou saneamento básico, em algumas residências chegam a morar sete famílias em uma estrutura precária. Na região, os homens se ocupam fazendo changas, nas montanhas, ou serrarias locais, enquanto as mulheres cuidam dos afazeres domésticos, da criação dos filhos e, sazonalmente, da colheita de mirtilos e frutas cítricas.
A pandemia deixou o pai da menina sem emprego, já que o isolamento social era obrigatório na região, mas nenhuma medida foi tomada para que as famílias desassistidas recebessem algum apoio financeiro do governo. A família acabou muitas vezes sem ter o que comer durante o dia, precisando racionar as refeições para que o pouco não se esgotasse.
Michelle encontrou dificuldades na modalidade de ensino a distância, já que não recebia o suporte necessário dos professores e sua mãe tampouco conseguia lhe explicar o conteúdo. Para fazer as atividades e acompanhar as aulas, a menina pegava um celular emprestado do vizinho, sempre convencida de que o único caminho para mudança e transformação é através do estudo.
O desemprego do pai fez com que nem sequer os materiais escolares mais elementares fossem comprados. Ela tem uma mochila do ano passado, com um lápis, uma borracha e uma pasta dentro, e mais nenhum outro material.
A jovem conta que está perdendo o acompanhamento de muitas disciplinas, e só consegue praticar educação física porque um amigo lhe doou calçados, já que as pessoas sempre foram muito generosas com sua família.
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A escola em que Michelle estuda é pública, mas o uniforme precisava ser pago, e como os pais não tinham como adquiri-lo, uma tia arcou com seu custo. Além dos materiais básicos, ela precisava de um celular para acompanhar as disciplinas on-line e de uma bicicleta para quando precisar ir à escola presencialmente.
A mãe da menina, Silvia, orgulha-se quando fala dela e revela que seu maior sonho é ver a filha terminar o ensino médio, coisa que ela e seu marido não conseguiram, enquanto o padrasto, Carlos, lamenta que deseja dar o melhor à sua enteada, mas que o desemprego o impede.
Michelle é uma menina de 12 anos que acaba vivendo uma realidade adulta e solitária, é filha única e sente que não tem amigos por ser marginalizada.
A organização Cáritas, da Igreja Católica, que trabalha para reduzir os problemas sociais das comunidades periféricas e das pessoas em situação de pobreza no país, abriu uma vaquinha on-line para que as pessoas interessadas possam contribuir com o futuro de Michelle.