O grande filósofo romano, Sêneca, disse, em sua magistral sabedoria, que “a principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se culpado”.
Todos estamos sujeitos a abrigar sentimentos com os quais temos dificuldades em lidar. Não temos habilidade com eles e por esta razão eles nos provocam desconforto, alguns até sofrimento, não por vontade ou por opção, até porque nem sempre temos controle sobre nossas emoções.
É grande a diversidade de sentimentos que habita o espírito humano e é natural que sejam de gêneros diferentes, podendo ser positivos ou negativos. São emoções, às vezes, dirigidas para si mesmo, outras vezes direcionadas para o outro.
Mas existe um sentimento da classe dos que machucam que são oriundos de nós mesmos, nascido e criados em nós, vivem no nosso âmago e chama-se culpa.
Essa emoção nem sempre é legítima, pois, muitas vezes, surge por alguma interpretação equivocada sobre nossas próprias ações ou uma idéia inserida no nosso inconsciente, em algum momento da vida, sem que notássemos e que, mais adiante, invariavelmente, emergiram sem o nosso controle, causando-nos confusão e sofrimento.
A culpa tem ações diferentes em cada indivíduo. Alguns se culpam por erros conscientes. Outros se sentem prejudicados e culpam alguém.
Há aqueles que se sentem culpados, sem que na verdade o sejam, são os que, em algum momento da vida, tiveram alguma experiência em que foi depositado em si o sentimento de culpa, mesmo não lhe pertencendo, sem perceber este aceitou. E há ainda aqueles que não assumem as conseqüências de seus atos, transferindo aos outros, culpas que são suas.
Algumas culpas encontram espaços em nós após um acontecimento significativo, sério, doloroso e podem provocar importantes sofrimentos para o indivíduo, doendo pela vida afora, muitas vezes, deixando-nos presos ao passado impedindo de nos libertar para seguir adiante, pois, de tanto olhar para trás, nossa caminhada não se desenvolve.
A culpa é um sentimento dos mais pesados que um ser humano pode arrastar, sobretudo quando não temos a certeza de que ele procede e é devido. ´Fato é que esta é uma emoção capaz de produzir patologias tão graves que nos levam a problemas de autoestima, depressão e, por fim, a autossabotagem, que é quando não mais conseguimos ser felizes, não nos sentindo dignos, apenas conseguimos nos sentir culpados.
Este sentimento maligno nos coloca diante de nós mesmos como uma pessoa indigna, levando-nos a arrastar remorso e censura. Esse sentimento, que corrói nossa alma e que muitas vezes nos impede de ser felizes, tem muitas variáveis difíceis de esgotar.
Há muitas formas de sentir culpado, assim como existem muitas razões que podem nos levar a elas, porém, desvendar sua origem é algo dolorosamente difícil e, por doer tanto remexer no que causou tal sentimento, é possível que nunca consigamos chegar à verdadeira razão e no momento e situação em que ela surgiu.
A culpa é um sentimento que diz que você errou, sendo isso verdade ou não.
Um exemplo de culpa maligna é achamos que os desfechos ruins de certos acontecimentos poderiam ser evitados por nós, o que pode ser uma mera ilusão. A sensação de que não fizemos o bastante, que falhamos são intensas e produzem em nós muito sofrimento.
A sobrecarga de culpa nos atira a um mar de tristeza, uma teia difícil de desvencilhar.
A culpa é um julgamento severo de nossa própria consciência, cuja dor mais dilacerante é constatar a distância que existe entre o que não fomos e o que desejamos ter sido e quando não se encontra um jeito de alterar tal julgamento, a dor pode durar uma vida inteira.
A este ponto é necessário exercitar um outro mecanismo, que no entanto é tão difícil quando desvencilhar das culpas que nos autoatribuímos. É a hora de exercitar o autoperdão, tendo errado ou não.
O grande filósofo romano Sêneca disse, em sua magistral sabedoria, que “a principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se culpado”.
Antes de rogar aos céus o perdão libertador, sejamos humildemente o juiz de nós mesmos, absolvendo-nos e libertando-nos.
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