A enfermeira afirma que não está trabalhando na linha de frente desde setembro, mesmo assim, a criança permanece com o pai.
Uma enfermeira de Mato Grosso está sem ver o próprio filho, de 7 anos, há nove meses.
Antes da pandemia, a criança vivia com ela, mas a Justiça determinou agora que o menor more com seu pai, porque, segundo seu parecer, a mãe, que é enfermeira, pode levar o vírus para casa e contaminar a criança.
A enfermeira trabalhou na linha de frente por alguns meses e, para preservar a saúde do filho, combinou com o ex-marido, que vive no Paraná, que o menino ficaria com ele por alguns meses. Antes disso, segundo acordo da família, a criança ficava com o pai apenas durante as férias.
A enfermeira disse ao G1 que a criança viajou na esperança de que, entre junho e julho, estaria em casa novamente, o que não aconteceu. O menor está com o pai desde março, e ele entrou na justiça com um pedido de modificação de guarda, alegando que o filho está adaptado à nova rotina e demonstra interesse em permanecer com ele.
Há cerca de duas semanas, uma juíza de primeira instância concedeu a “tutela de urgência” ao pai, o que significa que a criança continuará morando com ele.
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A juíza, que não ouviu a mãe da criança antes de tomar a decisão, que ainda é provisória, declarou que está “configurado o perigo de dano, sobretudo, diante da profissão exercida pela mãe, enfermeira, e pelo fato de a pandemia da covid-19 ainda não estar controlada em nenhum estado da federação.”
A enfermeira está insatisfeita com a situação, especialmente porque afirma que desde setembro não está mais na linha de frente, e que nesses últimos três meses tem realizado apenas trabalhos administrativos e com pacientes isolados em casa.
Além disso, ela também diz que o ex-marido está dificultando a comunicação dos dois e que, nos últimos tempos, sempre que procura o filho para conversar por chamada de vídeo ou de áudio, ele nunca está disponível. Ela acredita que o pai da criança esteja agindo dessa forma por conta de seu trabalho na pandemia.
A enfermeira disse ao portal de notícias que essa decisão a pegou de surpresa e a deixou indignada, não apenas como mãe, pois não pode chegar perto do filho, mas também porque sua profissão é primordial durante a pandemia.
Ela disse que, mesmo que ainda estivesse na linha de frente, existem protocolos de prevenção e que ela jamais desejaria o mal da criança, e se cuidaria.
O pai da criança disse, em nota, que “alegações da mãe – de que se encontra impedida de manter contato com o filho, seja presencial ou virtual – são inverídicas”, e que “o imbróglio judicial transcende a discussão em torno da atuação da mãe frente à pandemia, mas está relacionado à preservação dos direitos fundamentais da criança, como direito à vida e à saúde”.
O Conselho Federal de Enfermagem se manifestou sobre o caso, dizendo que a decisão da juíza representa uma violação humanitária.
A audiência de conciliação foi marcada para abril de 2021.