A coragem é um valor que os seres humanos perseguem desde sua existência mais remota nesse planeta. A Terra selvagem era cheia de vida e de seus mistérios, mas isso quer dizer que existiam animais à espreita para devorar você a qualquer minuto, alimentos que poderiam te envenenar, armadilhas pelo caminho, eram tempos difíceis e ter líderes sábios e valentes era uma questão de necessidade. Período como esse talvez, a humanidade tenha passado somente por um; a grande guerra mundial.
Digo a grande guerra pois a segunda ocorreu em detrimento da primeira, mas naqueles tempos um homem poderia sair correndo em fogo aberto para salvar seu companheiro ferido. Ninguém fica para trás, esse era um bom lema do exército. O que leva um soldado a desafiar a própria morte é talvez o mesmo que um guerreiro viking na idade das trevas, ou mesmo o que leva uma pessoa a se lançar só na vida; a superação do medo.
O medo não significa um sinal de fraqueza, como a muito foi pregado pelos romancistas, mas é a supressão do medo por um instinto de dever e proteção que é mais antigo em nós do que nossa própria civilização. Eu mesmo presenciei um momento como esse, onde eu fui o protagonista. Era uma noite de sábado e eu e minha esposa fomos ao nosso bar favorito onde demos nosso primeiro beijo; voltando a pé até a estação de ônibus fomos abordados por dois homens em uma moto. O assaltante responsável pela ação pulou da garupa e apontou a arma em direção a nós, mas mais voltada ao chão, sem pôr o dedo no gatilho, ele sabia o que estava fazendo e não queria que acabasse em um acidente. Quando ele pediu a bolsa de minha esposa ela correu, ele apontou diretamente a arma para minha amada e mais do que rapidamente eu encarei o cano do revólver em minha face. Eu a chamei e ela voltou e entregou a bolsa para o assaltante que fugiu, quando partimos eu tive o cuidado de coloca-la exatamente a minha frente, caso o assaltante decidisse atirar em nossas costas.
O que me fez agir daquela forma? O que me impulsionou? Um momento de coragem onde nada mais importava além do objetivo e assim eu entendi o que é a verdadeira coragem. Face a morte a desafiamos, a encaramos frente a frente e se tivermos de morrer que seja sobre os pés; daquele dia em diante eu decidi que morreria de pé, cheio de vida, forte. Ao contrário do que você possa estar pensando agora, lançar-se a todo instante ao perigo iminente não é uma virtude, contudo somente nos momentos necessários.
Assim defende o mestre Aristóteles em sua obra Ética a Nicomaco; ali ele fala sobre a medida certa para cada aspecto humano, onde o termo médio é sempre o melhor caminho. Nisso o mestre Aristóteles se assemelha ao mestre Buda, ambos defendem o equilíbrio como uma real virtude do ser. Então não devemos ser nem tão corajosos a ponto de nos colocar em riscos desnecessários ou tão covarde a ponto de desfalecer frente a dificuldade, contudo eu aprendi que existem apensas uns bons momentos na vida em que tomar a atitude correta realmente fará a diferença durante todo o decorrer de nossas vidas. Nesses momentos temos que estar prontos, firmes e cientes de quem somos.
A vida exige posturas muito corretas ao nosso respeito nos momentos certos, então não defendo aqui que temos que ser corajosos ou muito prudentes, acredito que existe o tempo de arriscar e a tempo de estar seguro e confortável em nossos limites. Não concordo com as pessoas que defendem viver a vida como aventureiros, sempre arriscando como se não houvesse nada a perder, pelo simples fato de que isso não é a vida real, é uma perspectiva muito romântica. Eles não estão errados, mas eu escolhi viver a vida de modo realista, com os pés no chão e ocasionalmente olhando para as estrelas no céu; cada um escolhe o que é melhor para si. Você também precisa entender e decidir qual perspectiva é melhor para você e tenho certeza que essa perspectiva é única, pois é só sua.
Agradeço por não ter tomado aquele tiro naquela noite, quem sabe o que poderia ter acontecido comigo, acredito que esse seja o exemplo de que não nos conhecemos realmente, talvez somente em frente aos reais desafios da vida nós possamos perceber quem somos de verdade. Claro que houveram outros momentos que eu me demonstrei totalmente fraco, contudo isso é assunto para uma outra história.