Corremos atrás da felicidade a vida inteira, mas fomos enganados esse tempo todo. Felicidade não se encontra.
Passamos a vida buscando a felicidade. Não é por menos, ouvimos de todos os lados que devemos encontrá-la. Mas com uma simples frase nós podemos desconstruir essa ideia.
“A felicidade pode ser comprada com uma garrafa de vinho“, disse o autor Tim Ferriss.
Primeiro, a frase coloca a felicidade como algo temporário. Costumamos pensar na felicidade como algo contínuo, quase mensurável. “Você é feliz?” é uma pergunta recorrente que denota a felicidade como algo permanente, não passageiro. Mas o fato é que nunca alcançaremos a felicidade plena, ou seremos felizes para sempre. A vida é uma gangorra de emoções. Os mais felizes não são aqueles que estão sempre felizes, mas os que estão felizes por mais tempo, ou mais vezes. Mesmo alguém que se considera feliz sempre tem seus momentos de infelicidade. Dentro de um mesmo dia nós alternamos entre momentos bons e ruins diversas vezes, como os trilhos de uma montanha-russa. A felicidade vai e vem. Ela é feita de momentos.
O segundo aspecto da frase é colocar a felicidade como algo comprável. A célebre frase “dinheiro não compra felicidade” é aceita por muitos baseada na felicidade como algo contínuo e difícil de se obter. Mas se passamos a encará-la como um estado passageiro, de fato ela pode ser comprada. Para testar o “efeito garrafa de vinho”, pense num produto que você vem querendo há tempos: como se sentiria se ele chegasse embalado para presente na sua porta agora mesmo? Provavelmente se sentiria feliz – momentaneamente.
O psicólogo Dan Gilbert apresentou em palestra uma pesquisa relevante. Os pesquisadores analisaram duas situações: uma pessoa que ganhou na loteria e uma pessoa que ficou paraplégica. Após o seu acidente, o paraplégico teve uma queda acentuada nos seus níveis de satisfação com a vida. O novo milionário passou alguns meses transbordando felicidade com o seu novo poderio financeiro. Entretanto, nenhum desses sentimentos durou muito tempo. Um ano após os incidentes – o acidente do paraplégico e a sorte do vencedor da loteria – estas duas pessoas se encontravam igualmente felizes com as suas vidas.
Dois eventos tão diferentes, tão impactantes, não tiveram efeito sobre a felicidade dos indivíduos depois de curtos 12 meses. De forma similar, outros estudos sugerem que um evento ruim na sua vida, se aconteceu há mais de 3 meses, não tem nenhuma influência na sua felicidade atual (com poucas exceções).
Parece estranho, não? Como é possível?
Por que alguém que ganhou na loteria volta ao mesmo nível de felicidade que tinha antes de ganhar? Porque é necessário que alguma coisa, algum evento, gere a felicidade. Ela é o produto final, não o motor. Ao invés de buscarmos o resultado final, abstrato e temporário que é a felicidade, deveríamos focar em eventos da vida que nos impactem positivamente. Não devemos procurar nas folhas, mas sim mexer nas raízes.
Imagine um domingo de sol escaldante. O calor toma conta do seu lar. Entediado, você está no sofá com o ventilador no máximo, assistindo TV para ocupar o cérebro de forma passiva. Neste momento de tédio, dificilmente você estará se sentindo feliz. Você consegue, de uma hora para a outra, ficar feliz? Vamos lá, imagine que a sua vida até ali tenha sido um sonho, que tudo tenha dado certo. É possível apenas relembrar de tudo e ficar feliz instantaneamente? Infelizmente, não.
O que você poderia fazer é levantar do sofá e se engajar com algo que o motive, que te excite e te faça sorrir. Algo que você realmente goste, algo que te dê energias para largar o sofá e ir atrás. Algo que te deixe ansioso antes de fazer e com um sorriso no rosto depois de fazer.
Este é o melhor combustível para tornar os momentos de felicidade mais recorrentes e duradouros.
Minha última semana não tinha sido nada demais, até que fui para a praia com a minha esposa e um amigo. O dia estava maravilhoso, espetacular. A água gelada bem do jeito que gosto. Caminhei, mergulhei e joguei frescobol. Subi no costão e observei a lua, magnífica. Comi pastel na volta pra casa. Tomei um banho quente. O dia tinha sido perfeito. Fui dormir muito feliz. Ter saído de casa e feito algo que eu adoro mudou completamente meu estado de ânimo. E mais, gerou tração. Essa felicidade toda não acabou quando fui dormir. Foi mais duradoura, seu efeito se esvaiu por completo apenas uns 2 ou 3 dias depois. Mas eventualmente voltei ao estado normal que me encontrava antes daquele dia maravilhoso na praia. Agora a responsabilidade é minha novamente: é hora de achar outra coisa para catapultar meu nível de felicidade para cima de novo.
Parece uma conclusão simples, mas todo objetivo fica mais difícil se não sabemos como alcançá-lo. Você pode querer ser mais feliz e não saber como. Alguns esperam a felicidade chegar. Alguns acham que a felicidade vem com a aposentadoria. Outros acreditam que grandes eventos, como ganhar na loteria e ficar rico, vão trazer a felicidade. Mas o fato é que ela está bem mais perto do que imaginamos, só precisamos parar de mirar nela e começar a mirar no que leva à ela.
Buscar “ser feliz” é um abstrato que não nos orienta para a ação. Saber o que nos motiva e nos dá tesão, por outro lado, é acionável e está sob nosso controle.