Pela primeira vez, a ciência conseguiu observar o cérebro de uma pessoa antes, durante e depois da morte em um eletroencefalograma por acaso.
Os mistérios acerca da morte sempre foram alimentados. Ainda existem infinitas perguntas a serem respondidas, mas pouco campo teórico de investigação.
Por razões um pouco óbvias, saber o que acontece com uma pessoa no momento da morte ainda é impossível, mas os cientistas acabaram de dar um passo importante por pura obra do acaso.
Uma equipe internacional de 13 cientistas de diferentes países – China, Estônia, Canadá e Estados Unidos – examinou a atividade cerebral de um homem de 87 anos que morreu de ataque cardíaco no hospital.
As descobertas sugerem que o órgão pode reproduzir determinados eventos marcantes em nossas vidas pouco antes da morte.
O estudo foi publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience, em 22 de fevereiro de 2022, e comprova a inesperada atividade cerebral.
Os pesquisadores explicaram que a atividade cerebral dos humanos depois de uma parada cardíaca e a experiência de quase morte ainda não são bem compreendidas. Por mais que existam estudos sobre a atividade do órgão depois da morte, nenhum outro tinha conseguido mensurá-la durante o processo de morte.
O idoso chegou ao hospital por causa de uma queda, com um “hematoma subdural traumático”, quando o sangue se acumula entre o cérebro e o crânio. A equipe médica agiu como sempre nesses casos, realizando uma craniotomia para aliviar a pressão e reduzir o sangramento no local, mas o homem acabou falecendo durante uma eletroencefalografia (EEG) em busca de sinais elétricos no cérebro.
O estudo analisa 900 segundos de gravações, que foram divididos em blocos de 30 segundos antes e depois que o coração do paciente parou de bater, e constatou uma substancial mudança nas ondas cerebrais, o que sugere que o cérebro continua a funcionar mesmo depois que o sangue para de chegar a ele.
Segundo as conclusões do estudo, a equipe analisou padrões de atividade cerebral rítmica, mudanças nas ondas alfa, gama, delta, teta e beta, o que poderia sustentar a ideia de que ele viu a “vida passando diante de seus olhos” nos momentos que antecederam e depois da morte.
Essa possível conclusão se deu pelo fato de que as interações de ondas cerebrais alfa e gama estão associadas a processos cognitivos como recuperação de memória, processamento de informações, meditação e sonhos.
Mesmo sendo uma descoberta “intrigante”, segundo os cientistas, esses dados foram coletados em apenas um paciente com danos cerebrais que devem ser considerados. Em consequência do trauma, ele estava tomando altas doses de medicação anticonvulsiva, que pode sim ter influenciado na atividade do órgão naquela ocasião.
Embora existam poréns, a comunidade científica defendeu que o estudo traz informações importantes, às quais não tínhamos acesso, e que é possível encontrar semelhanças do padrão de ondas cerebrais em roedores, estudo feito anteriormente. Além disso, ajuda a elucidar algumas questões sobre o fim da vida e início da morte, o que pode influenciar diretamente na prática de doação de órgãos, por exemplo.
O neurocirurgião que organizou o estudo, Ajmal Zemmar, da Universidade de Louisville, contextualizou que ele e sua equipe se concentraram mais nos 30 segundos depois que o coração do paciente parou de bater.
As oscilações envolvidas na recuperação da memória acabam sugerindo que o cérebro estivesse reproduzindo uma última lembrança de eventos importantes da vida, assim como em alguns casos de quase morte.
Zemmar explica que, por mais que nossos entes queridos estejam de olhos fechados momentos antes de suas passagens, seus cérebros podem estar revivendo alguns dos seus melhores momentos.