Aqui jaz um corpo com vida não vivida, que, por covardia, deixou- se ser apossado. Pois, de que modo teria vida, mesmo que não fosse por você vivida?
Uma vida desfalecida! Talvez paradoxal soaria menos trágico, o que não diminui o peso do que os outros “querem” para você.
Seus desejos são uma ordem, que trouxe caos e desordem para aqueles que, no dia de seu nascimento, festejavam: seja bem-vinda a “sua” vida.
Cantavam “viver e não ter a vergonha de ser feliz”, como se fosse um dever a ser cumprido.
Pergunto-me: seria um dever seu ou um direito deles?
Os castigados acreditam que a felicidade não pode ser, por você, vivida.
Seria um ato egoísta usufruir momentos de felicidade, enquanto outros não compartilham desse mesmo sentir?
Sorrisos suprimidos, silenciados e até mesmo sentenciados são de grande valia para os que padecem.
E o quão difícil é para você adoecer suas emoções, a ponto de torná-las nulas?
Encaixotando sentimentos, a vida para você é um caminhão de mudanças que, durante o percurso, perdeu a única coisa que mais importava: a caixa onde guardou os sorrisos que nunca tomaram vida.
E agora, depois de décadas, o tempo passa mais depressa e com ele a idade também lhe cobra, o que o corpo já não pode mais aguentar.
O sofrimento é uma foice que pode cortar ervas daninhas, e também flores. Uns seguem a evolução, porque a alma dilacerada precisa se recompor e isso se dá através de aceitar o que lhe fere e seguir buscando o aprimoramento digno do ser humano. Já outros, mesmo em meio a pestes e tempestades, ainda são críticos e demasiadamente orgulhosos para baixarem a cabeça e receber de bom grado a penitência.
Preferem viver em “guerra” do que aceitar a calmaria, tão desejada depois do apocalipse.
Parece que a paz é um estágio que muitos não conseguem lidar.
Enquanto possuírem voz, gritarão num afã de provar que sempre estarão certos, mesmo nunca sendo.
Não existe paz para aqueles que não querem dispor das vendas que cobrem seus olhos.
Mas seja tolerante, padecer é preciso para você, que ainda sofre por não saber se as suas “asas” conseguem lhe manter longe do “ninho”.
Continue fortalecendo suas “asas” e não tenha medo de que um dia, quando para você for mais uma tempestade, será pelos ventos trazidos por ela que voará em busca da tal almejada “liberdade”.
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