Por qual motivo eu tenho que exibir a cada momento da minha vida nas redes sociais? Para quê? Cada passo, cada riso, cada encontro, cada beijo, abraço, festa, viagem… Tudo!
Por qual razão tenho que mostrar esses momentos tão bons com família e amigos em várias redes sociais? Isso cansa, não? É muita exaustão ter que postar foto por foto; e ainda ter o mais “importante”: a legenda – sim, porque a legenda da foto tem que ser aquela legenda que cause impacto e atraia os olhares dos curiosos para conquistar a curtida.
Agora, me diz: PARA QUÊ TANTO GASTO DE ENERGIA PARA EXIBIR TUA VIDA EM REDES SOCIAIS? E o mais curioso é que nos acomodamos quando temos muitas curtidas nas fotos e isso não dá “afirmação” de que somos queridos e aceitos – nisso, a cada foto com muitas curtidas, será armadilha da zona de conforto do narcisismo, pois cada vez mais se quer postar fotos para ter muitas ou mais curtidas do que as fotos que foram anteriormente postadas e deram a impressão de terem sido “agradáveis” aos 50, 80, 100 ou 1.000 olhos da sua lista de amigos.
Tá bom,ok! Cada um faz aquilo que bem entender e querer compartilhar um momento que marcou e lhe deixou eufórico não é lá um agravante sem tamanho, mas a falta de equilíbrio te faz escravo daquilo que é ilusão. A vida real está fora do ONLINE e não podemos perder o tato de socializar com simples atos como: olhar no olhar, aperto de mão, conversas, tomar um sorvete, etc. (isso tudo sem foto, é claro). Nós estamos vivendo para a foto e não sabemos mais guardar lembranças ativando nossa memória.
Hoje, tudo é foto, tudo é registro para os outros e nunca para si mesmo. O fenômeno da selfie tem se tornado o espelho da bruxa: “Selfie ,selfie meu, há biquinhos mais bonito o que o meu?” “Selfie, selfie meu, há barriga mais negativa que a minha?” Sim, estamos fazendo que muitas selfies sejam para nós um espelho em que o elogio seja sempre positivo conforme nós desejamos.
Tempos atrás, bem antes do advento das redes sociais e em geral da internet, nossas fotos ficavam guardadas e organizadas em álbuns de família e não era qualquer um que tinha acesso; quando alguma visita vinha à nossa casa, era pensada pela mãe ou pelo pai na possibilidade se iria ou não mostrar o álbum com as fotos de infância, da última festa de aniversário, da viagem que com muito custo foi paga, da confraternização de fim de ano do trabalho, etc.
Ou seja, antes, não queríamos mostrar nossas vidas a todo hora e/ou para qualquer um, porque éramos mais reservados e selecionávamos quem poderia saber dos últimos acontecimentos de nossas vidas.
O que quero dizer é não que temos que virar “monges” – o que eu me refiro é a falta de senso ao pressionar OK para confirmar cada publicação de nossos momentos. É necessário mesmo ter que postar os primeiros passos do seu(a) filho(a) para 500 “amigos” de sua lista do Facebook? É necessário mesmo mostrar seu almoço/jantar para seus 800 seguidores no Instagram? É necessário mostrar o banho de seu(a) filho(a), e ainda correr o risco de caírem nas mãos de pedófilos tais fotos? (Sim,esse risco existe sim!). É necessário mostrar que está indo ao culto/missa? É necessário mostrar que está internado(a), ainda com direito a exibição de aparelhos hospitalares para provar mesmo que está internado(a)? Infelizmente, o desespero por aceitação, o vazio no espírito e atitudes fúteis desencadeiam nossas ações em querer nos super expor para ter que provar que “temos e/ou somos”, devido a essa era que vivemos estar na regra do eu preciso TER para ser aceito(a). Que bobagem. A simples verdade de que Deus nos fez plenos e especiais não entram na nossa cabeça por ser uma verdade simples demais e muita simplicidade nos incomoda – não temos facilidade em aceitar coisas simples: andar na praia, ler um livro, conversar com os pais, escrever uma poesia, sentar no chão, molhar as plantas, olhar as estrelas, admirar o pôr do sol e entre outras coisas.
Nós temos a tendência a valorizar burramente o que é mais paradoxo, pesado e angustiante porque somos seres pensantes facilmente manipulados e influenciados a seguir uma massa. Se fulano fez isso e deu certo, eu vou fazer também. Se ciclana fez aquela pose na foto e teve muitas curtidas, então farei igualzinho. Assim , pouco a pouco, caímos na armadilha narcisista.
Para quem ou para que provar o que você tem ou que é? A vida passa tão rápido e nos desgastamos em tentar provar a todo instante que “podemos ou que somos algo”, porque tudo que é definido em torno de bens materiais é o que vale. E a essência vai se perdendo. Perdemos tempo com questões que em nada irá nos acrescentar, e sim, só nos deixará triste e com risco de afetar nossa autoestima.
Em entrevista ao El País, o sociólogo e professor Zygmunt Bauman, disse algo que nos ajudará a refletir sobre a questão de relações sociais e virtuais:
“Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.”
Obviamente, que eu muito tenho aprendido como me relacionar nas requeridas redes sociais, as quais as mesmas me mostram que o meu valor e minha capacidade não dependem daquele LIKE/CURTIDA ou ter 10k ou 1 milhão de seguidores. Porque sei que nada disso pode ser um limitador do que somos ou uma plataforma que nos dirá se servimos ou não para ser aceito.
Não preciso de redes sociais para mostrar que estou bem e feliz. Aliás, ninguém precisa. Cultive a paz de espírito e não atice a vaidade para alimentar a própria luxúria.