Um morador de Vicente Pires, no Distrito Federal, relata ter sido vítima de racismo durante um voo da companhia aérea Gol, que partiu do Pará com destino à Brasília, em junho deste ano. Segundo o biólogo Bruno Henrique, de 25 anos, a discriminação foi praticada por um comissário de bordo, depois de encontrarem um carrapato dentro do avião.
“Infelizmente, ele [funcionário] falou que o carrapato poderia ter caído de uma bagagem ou até mesmo do meu cabelo”, conta o jovem negro, de cabelos crespos.
![Jovem do DF diz ter sofrido racismo de comissário ao encontrar carrapato em voo: 'Falou que poderia ter caído do meu cabelo'](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/08/carrapato-400x207.jpg)
Questionada sobre o caso, a Gol informou que “não compactua com quaisquer atitudes discriminatórias” e que vai apurar o incidente (veja nota na íntegra ao final da reportagem).
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) também está acompanhando o caso e pretende apoiar o jovem em uma denúncia à Polícia Civil.
‘Me senti inútil’
O biólogo conta que o caso ocorreu quando ele voltava de Marabá (PA), onde fez concurso público para a Polícia Militar. Segundo o rapaz, dentro do avião, os carrapatos começaram a cair em cima dele e da passageira que estava ao lado.
Primeiro, eles relataram o caso ao comissário, que teria dito que a situação era impossível. Os animais então voltaram a cair e o passageiro fotografou. Após chamarem o funcionário de novo, ele disse que o carrapato poderia ter caído do cabelo de Bruno.
O biólogo só divulgou o caso dois meses depois, após se recuperar de uma infecção por Covid-19, que ocorreu depois da viagem, e contar sobre o ocorrido para familiares, que alertaram haver uma situação de preconceito racial.
“A princípio não identifiquei o racismo, somente o constrangimento. Me senti como uma pessoa suja, que não tivesse acesso a higiene básica. Quando tive noção de que foi racismo, foi revoltante. Me senti inútil.”
Bruno afirma que, após o voo, procurou providências da empresa, inicialmente apenas por ter se sentido lesado ao encontrar carrapatos no avião. “Em primeiro instante, [a empresa] não teve nenhuma preocupação”, diz.
Depois, ele denunciou o caso por meio do portal consumidor.gov.br, e a companhia ofereceu um crédito para outro voo. Para o biólogo, a solução encontrada não é suficiente e ele pretende acionar a Justiça.
“Vou atrás dos meus direitos”, diz.
O que diz a GOL
“A GOL recebeu relatos de carrapatos durante o voo G3 1884, no dia 7 de junho na rota Marabá-Brasília, e acredita que os insetos possam ter sido transportados acidentalmente em alguma mala de mão.
Todas as aeronaves da Companhia passam por procedimentos diários e rigorosos de sanitização, e a dedetização das aeronaves é realizada periodicamente, em curtos intervalos de tempo, como parte da rotina mandatória de manutenção.
Como forma de compensação ao Cliente e para que ele tenha uma nova oportunidade e experiência em voar com a GOL, foi lhe oferecido crédito disponível para uso até 31/07/2022, conforme também consta no site Consumidor.gov.
A GOL também reitera que não compactua com quaisquer atitudes discriminatórias, preza pelo respeito e pela valorização das pessoas, e vai apurar o ocorrido”.