Muitos pais idealizam os filhos com base no que queriam para suas próprias vidas e não alcançaram, ou planejam que sejam pequenas cópias de si mesmos.
Sabemos o quão impactante é o nascimento de uma criança. A chegada tão esperada e organizada durante nove meses, o medo de que algo ruim aconteça com aquele pequeno ser, a conexão que se cria e se fortalece no tempo que passa. Mesmo que já tenhamos provado do amor em algum momento de nossas vidas, ele muda totalmente de patamar quando temos filhos, como se o sentimento se tornasse intocável.
Esse vínculo que vamos criando com a criança que acabou de chegar ao mundo, faz com que nosso próprio comportamento se altere. Isso acontece porque literalmente estamos aprendendo tudo sobre a maternidade e a paternidade, assim que aquela criança nasceu, uma mãe e um pai também nasceram. Tudo o que foi aprendido antes daquela chegada parece que é sugado por um buraco negro dentro de nossas cabeças, aprendemos cada função do zero.
Nem sempre é fácil lidar com todas as frustrações do mundo, com a privação de sono dos anos iniciais e ainda precisar criar aquela pequena criança com o melhor que você carrega. Passamos a ficar o tempo todo em alerta, sempre esperando que algo aconteça, tentando remediar situações e evitar maiores danos. Quantas vezes você não pegou seu filho no ar antes que um acidente maior ocorresse?
Mas, ao mesmo tempo, mesmo que sejamos os melhores pais e mães do mundo, todas as vezes que algo não pode ser evitado, como uma doença, por exemplo, passamos a experienciar a culpa. Principalmente as mães, que se veem envoltas em um véu de culpa, sentem que precisam se esforçar mais, planejar mais, se doar mais, fazer mais e sem perceber acabando quase se anulando em prol da criação dos filhos.
Esse equilíbrio é realmente difícil de encontrar, e pode ser extremamente prejudicial tanto para os pais, quanto para as crianças. A partir do momento em que nos sentimos cobrados, passamos a também cobrar do outro, e esse outro, no caso, são as crianças. Doamos tanto de nós que queremos que eles correspondam às nossas expectativas, como se tivessem uma “dívida” conosco.
É importante tentar refletir um pouco sobre o que faz com que o desejo de que os filhos cumpram um papel pré-programado se sobreponha à aceitação. Em primeiro lugar, precisamos tentar compreender que, desde que nascem, as crianças são indivíduos completamente dissociados de nós, podemos sentir como se fossem parte de nossos corpos nos primeiros meses e anos, mas isso é porque são dependentes.
A dependência não anula a individualidade e as vontades. Quando uma criança chora, ela de fato está sentindo algo que só consegue expressar daquela forma. Ao mesmo tempo que precisamos ser presentes na criação, precisamos ter consciência de que no futuro, uma boa relação faz com que eles sejam autônomos e queiram alçar voo, atrás da própria independência.
Outra coisa que também podemos errar é a questão de projetar nas crianças tudo aquilo que queríamos para nós mesmos. Se tive uma infância com poucos brinquedos, passo a dar o máximo que conseguir; se não comia aquilo que sentia vontade, passo a liberar qualquer tipo de alimento; se não fiz faculdade, quero que façam.
É claro que isso é extremamente natural, queremos oferecer tudo aquilo que temos ou mais, mas nem sempre o que queremos e o que temos é o melhor para eles. Pode ser um pouco difícil de compreender no início, mas assim que você começar a fazer o exercício de ouvir seus filhos como se fossem indivíduos independentes e autônomos, tratando como você trata um amigo querido, dando atenção e respeitando suas vontades, a interação vai melhorar significativamente, pode apostar.
Um dos exercícios mais difíceis na vida dos pais é o momento em que precisam “cortar o cordão umbilical”, a hora em que precisam reconhecer que os filhos vão ser o que querem. Se quisermos desfrutar de suas companhias, receber o amor que têm a nos oferecer, precisamos respeitá-los assim como queremos ser respeitados.