Certa vez, ensinaram-me que se o amor chamasse a bailar, você deveria ir, sem pestanejar. E, lá fui eu a dançar comigo mesma.
Também aprendi que o coração é a forma mais pura de proximidade, pois nem mesmo o olhar nos mostra tanto. E, lá fui eu exercitar o músculo mais importante do corpo.
Claro que a primeira dança, seguindo o ritmo do coração, tinha mais determinação que beleza. Mas, os treinos diários trouxeram a sintonia que o bailarino vacilante e o músculo rijo precisavam.
Hoje, atrevo-me a dizer que eles arrancam aplausos com seu balé. Em alguns momentos da apresentação, o amor mostra ao coração o ritmo certo a seguir; noutros, o coração conduz o amor pelo palco, mesclando firmeza e delicadeza.
Juntos, mostram-me, todos os dias, qual o próximo espetáculo a produzir.
Com isto, consegui separar sonho de realidade e pude constatar que a segunda opção é muito melhor, quando somos dirigidos pela alma.
Ah, a alma, o diretor de todo esse balé da vida, sempre conectada às raízes amorosas. Livre de correntes autoimpostas, ela orienta o bailarino a ultrapassar as linhas do palco. Liberta, ela voa e libera o coração para seguir o ritmo do amor. Agora, amor, coração orientado pela alma dançam até o ponto central do espetáculo: a missão.
E missão é apenas uma maneira destemida de se apresentar no show da vida, entendendo que as lições são bailarinas coadjuvantes, embora egoicamente lindas e necessárias em determinados momentos, são apenas “deixas” cenográficas das missões, a dança principal, o balé que congraça suavidade e firmeza, beleza e determinação, amor e coração para nos levar ao que realmente somos em essência.
Embora importante, não é essencial soltarmos as mãos do desritmado medo. Ainda que o saibamos ilusório, lidamos com o descompasso dos temores e mesmo quando já bailamos lindamente, seria mentiroso afirma que nossos pés não vacilaram em algumas danças.
Mas, se acreditamos no espetáculo e estamos bem dirigidos, o músculo do bailarino segue o seu próprio ritmo. Assim, o descompasso do medo se esvai, para dar lugar ao que essencialmente somos.
Ao final do espetáculo, temos a impressão de que nos transformamos, mas no fundo todo o processo era para nos lembrar do que sempre fomos: bailarinos feitos essencialmente da pura luz que o coração emana da alma e somente o amor é capaz de aflorar.
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