Eu tenho tantos medos, empilhados, empoeirados e mistificados na estante do meu pensamento. São medos concretos, novos e antigos. São medos pensados e digeridos, do mundo que nos cerca, de guerras em pleno século 21, do ser humano desumano, solitário e egoísta, tentando se passar por gente de verdade. A gente se isola um pouco a cada dia mas ninguém entende esse recolhimento, ninguém compreende o seu silêncio, sua reclusão social, sua desconfiança descomunal.
A gente vai se fechando lentamente, criando um casulo, como refugiados ou sobreviventes. Vivemos num mundo que despeja verbalmente seu veneno ou sua vaidade para quem quiser ouvir. Vivemos entre pessoas que se despem de seus pudores, que exibem seus rancores, seus temores e suas dores, ou alegrias histéricas e expõe suas vidas pelas esquinas, vendendo um folhetim barato de quinta categoria. A que ponto chegamos, onde o discernimento vale para o bem e para o mal na mesma proporção.
Eu assisto todos os dias, capítulo por capítulo, essa nova versão de mundo, e muitas vezes me pego sem entender, como se minha compreensão não chegasse lá, como se fosse incapaz de mensurar os valores com os quais eu cresci. Muita coisa mudou, algumas foram além das expectativas, outras se desvirtuaram e caíram numa armadilha do tempo e voltaram a forma primitiva. E não estou apenas dizendo sobre a banalidade em que a vida se tornou, mas da superficialidade em que nos colocamos, das margens não aprofundadas, das constatações que não nos tocam mais.
Nós temos suportado uma carga enorme de violações, em nossas almas conformadas e feridas.
O mal nos pega de jeito, bate e volta, as vezes nem percebemos. Nem choramos. Mas ele está ali, cutucando e provocando, está em cada palavra certeira que nos atinge como uma lança, ou em cada atitude de desrespeito e falta de compaixão, está nos olhos assustados de crianças feridas por dentro e por fora, vítimas de maldades impunes, mudas e caladas em suas aflições.
Dói saber que, desde que o mundo é mundo coisas assim vem acontecendo, a gente chega a se perguntar de que material é feito certas pessoas, que genes são esses?! A gente quer ser forte, lutar contra, mas cadê a voz pra gritar no meio de uma multidão desvairada de opiniões equivocadas, de seres desavisados e incoerentes, cheios de si, cheios de raiva e sem a menor empatia com qualquer causa maior que não seja a do ego, do umbigo, de si mesmo. Em meio a tantas notícias surreais, que assistimos todos os dias, sentados no sofá de casa, sofrendo e lamentando, morrendo de medo, como num jogo de sorte, pensamos assustados, o que será que vem depois?
Penso que temos todos que nos unir, os mocinhos, juntar energias positivas, orar, formar ongs, lutar pela paz, por não mais descasos com assuntos sérios, por não violência. Proteger as crianças, defendê-las e ampará-las, que elas não mais façam parte de guerras, de abusos, de pais malucos! Nem os animais, nem os marginalizados, nem as minorias ou os violados, de alguma forma, nem ninguém.
Todos merecemos um mundo melhor, muitos aspiram por isso, sonham com isso, posso dizer que sou uma delas, pelo menos estou fazendo minha parte. Você está fazendo a sua?