Casei comigo mesma e aceito o que sou, o que fui e o que posso vir a ser e, nesse caminho, livro-me das bengalas emocionais e das desculpas e culpas.
Eu sou apologista dos casamentos. Essa palavra me encanta. Esse ritual é um dos mais bonitos, e um dos únicos em que paira uma escolha.
Quando falamos de casamento, falamos de escolha e aceitação. Podemos imaginar que seja a aceitação do outro mas, na realidade, é sobre aceitar o resultado das nossas escolhas. O outro e tudo o que o envolve fazem parte do produto de escolhas anteriores.
Casamentos não são as flores, o vestido e a roupa do noivo, os sapatos, tampouco o bolo ou a lista de convidados. Casamento não é a viagem de lua de mel (embora seja uma grande viagem).
Outro dia, falava sobre casamentos com alguns amigos e, quando me dei conta, disse que não gostava de casamentos. E me corrigi. Não gosto de ir a casamentos porque grande parte deles não vai adiante.
Casar é revelar como anda a nossa maturidade. E a maturidade é uma das nossas perspectivas mais relativas.
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Podemos ter maturidade em muitos aspectos da nossa vida, mas não ter maturidade emocional. E mesmo tendo-a, podemos não ter para lidar com situações-limite que numa vida a dois multiplicam-se exponencialmente.
Muitas vezes, o que vejo são bebês a se casarem. Cheios de boas intenções, com boas vibrações e atitude sincera, mas que, no fundo, só pensam em si mesmos e no próprio bem-estar. Eu já fui um bebê a me casar e, de certa maneira, eu ainda sou um bebê.
Não estamos preparados para algumas coisas que acontecem diferentemente do que esperamos ou planejamos. Reagimos como crianças, com choro, zanga, raiva, autopiedade ou até mesmo atirando o que estiver ao alcance da mão. Quem nunca jogou o que tinha nas mãos no calor de uma discussão? Ou então chamando a atenção, procurando mostrar-se melhor e maior nos seus feitos e criticando o outro? Tais quais bebês.
Por mais estranho que pareça, permanecemos bebês em alguma parte de nós, quer seja na maneira como lidamos com as emoções, com as pessoas, sobre a nossa resiliência e até mesmo espiritualmente.
Ser maduro não quer dizer ser adulto, não quer dizer que saibamos escolher as pessoas certas para nos acompanhar. E mesmo que juntemos ainda duas pessoas maduras, compatíveis intelectualmente, independentes e virtualmente capazes de fazer andar uma relação na melhor perspectiva ideal que os especialistas poderiam sugerir, ainda assim casamento também não é só maturidade, antes é sobre projetos, metas e para onde queremos ir.
Um casamento, para durar, tem de ter maturidade e parceria. E parceria é o que as pessoas verdadeiramente conscientes, que têm projetos em comum e que já conseguem dividir o palco sem amuar, como um bebê, fazem.
Entretanto, o melhor casamento que há, na realidade, é o casamento com nós mesmos. Ninguém é capaz de casar com o outro enquanto não tiver passado pelo ritual do casamento consigo mesmo.
Quando casamos com nós mesmos, somos capazes de desenvolver uma relação madura com qualquer outro que esteja na mesma condição. Porque casamento com o outro é parceria, e parcerias precisam de pessoas fortes, que saibam lidar com o maior lobo de todos: nós mesmos.
Eu casei comigo mesma hoje enquanto escrevia este texto. Não houve flores nem bolo, nem quarteto de cordas para acompanhar a minha entrada até o altar, mas li-me nas linhas que escrevi e dei-me conta de que, se não casasse comigo mesma, a minha parceria não poderia ir adiante.
Casei comigo mesma e aceito o que sou, o que fui e o que posso vir a ser. E, nesse caminho, livro-me das bengalas emocionais e das desculpas e culpas.
Não tenho tempo para perder com choro e dramas. Meu parceiro para esta aventura, que é a vida, está à minha espera, e não gosto de estar atrasada.
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