É muito mais fácil refletir no outro a própria sombra, pois a crítica é uma estratégia de dizer o que eu quero dizer sem que pareça inveja.
A inveja é inerente ao ser humano, ela está em todos nós, em níveis diferentes, mas está. Num impulso de ódio meio que inconsciente, numa forma sombria de elogiar alguém que se destaca em algo, definitivamente é, em todos os casos, um sentimento maldoso.
Não confio no termo “invejinha branca”, algo sutil e sem maldade nenhuma, porque o invejoso não deseja o que é seu, ele quer que você não o tenha.
A razão para essa afirmação é muito simples: o invejoso é especialista em desmerecer a conquista alheia e sente tristeza ao perceber a felicidade do outro, incomoda-se tanto que lhe dói fisicamente. Constatar a alegria do ser invejado, o sucesso, a prosperidade, a inteligência, a beleza e a realização em qualquer nível é insuportável.
É indiscutivelmente uma cegueira, que não deixa o invejoso enxergar a si mesmo e viver a própria vida, pois o foco dele é a vida de destaque do outro.
Buscar suas conquistas com mérito próprio certamente não é o esquema de quem vive à sombra da inveja, porque o diálogo interno não é sobre desejar para si próprio mas, acima de tudo, que o outro não tenha.
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Você se considera uma pessoa invejada ou invejosa?
Este é um sentimento tão ruim que não conseguimos ver invejosos se declarando com facilidade, mas quando a pergunta é sobre a sensação de ser “vítima” de inveja, aí se torna bem mais fácil ouvir boas histórias a respeito.
É mais razoável “passar despercebido” o sucesso de alguém distante, dói menos e dá para seguir a vida sem traumas maiores. Agora, quando o novo milionário da família é aquele primo que não tem nem o ensino fundamental completo, mas desenvolveu um negócio novo que é sucesso na internet, aí já é demais!
Quanto aquele colega de trabalho, que acabou de entrar na empresa, é promovido antes de você, é muita injustiça, não é verdade?
Quanto mais próximo estiver a pessoa de sucesso do invejoso, maior será a dificuldade em “perdoar” aquela felicidade toda, é preferível perdoar o sucesso de alguém mais distante ou até mesmo desconhecido.
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Reconhecer que é um fracasso não é uma opção e se concentrar no outro acaba sendo o caminho.
O que o invejoso não sabe é que esse sentimento é uma homenagem velada ao outro, pois reconhecer as conquistas alheias ou de uma pessoa específica que seja objeto de inveja é muito desafiador. Elencar os pontos positivos que permitiram a alguém chegar ao sucesso por mérito não é atribuição do invejoso.
O lado bom disso tudo é saber que todos nos amarão quando estivermos por baixo, pouquíssimos, se estivermos por cima, sabe por quê? A compaixão existe e, de certa forma, é natural e genuíno esse sentimento em todos nós. É só observar quando alguém precisa de ajuda por estar passando por um momento difícil na vida, para o que são criadas campanhas e correntes de solidariedade, em que arrecada tudo o que for necessário para o momento. Isso é maravilhoso!
O mesmo nem sempre acontece quando seus planos começam a dar muito certo, porque sempre vai existir o invejoso, aquele que tem uma ideia distorcida de si mesmo, não evolui e nunca se pergunta por que não evolui na vida, jamais ousará se questionar a respeito do que faltou em si mesmo, se foi capacidade ou desenvoltura, porque esse tipo de ser humano, o invejoso, tem uma ideia superior de si mesmo, uma imagem distorcida de quem realmente é, vive um personagem inventado.
É um excelente questionador e não e não enxerga como genuínas as conquistas alheias. É importante perceber que todas as características ruins que ele pontua no outro, na verdade, são suas, mas seria insuportável reconhecer isso.
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Sabendo que a inveja nasce das nossas diferenças, o simples fato de existir já é motivo para o invejoso refletir no outro todo o seu vazio existencial.
Trocando em miúdos: a inveja é a pura falta de capacidade, é o comportamento covarde de quem não tem vida própria e, por falta de boa autoanálise, vive de comparação com o estilo de vida do outro.
A coisa é tão séria que o invejoso é ousado a ponto de comparar a partir da própria conduta o que é certo e errado, o que for diferente daquilo que ele faz para mais será algo exagerado, e se for a menos, será entendido como insuficiente. É a sofisticação de uma cegueira que atinge todos nós em algum momento da vida.
Diante da inveja, eu duvido se você não teve, uma vez pelo menos, dado um toque naquele amigo sem noção, que se acha melhor, a quem ninguém teve a coragem de falar na cara. E disse que era em nome dos demais que falava, mas lá no fundo se sentiu bem ao usar as palavras dos outros para dizer o que gostaria.
Para o invejoso, é fácil se conformar em não ter algo, mas saber que o outro também não terá é maravilhoso!
Sabe aquele pensamento assim: eu nunca tive casa própria, sempre foi assim e tudo bem, está tudo tão difícil mesmo, o que eu não “aceito” é ver a minha vizinha, que é uma doméstica medíocre, com casa nova e carro zero na garagem. Aí não dá!
Assim é o invejoso: incapaz de reconhecer o fracasso pessoal e ao mesmo tempo eufórico em ver a queda do outro. Na verdade, esse é o seu sonho de consumo diário.
Outro cenário é o da namorada traída ao ver o ex com outra mais bonita que ela, não por acaso, sai em busca de defeitos na atual para justificar a previsão de derrota que tem sobre o futuro do relacionamento. Ela não aceita que não soube estabelecer os limites e que é responsável pelos tombos que leva na vida.
É muito mais fácil refletir no outro a própria sombra, pois a crítica é uma estratégia de dizer o que eu quero dizer sem que pareça inveja.
Ela (a inveja) não permite que as pessoas se enxerguem como realmente são ou busquem conhecimento, porque se for refletir sobre o motivo de estarem tristes, saberão que é a alegria alheia, e certamente haverá ali a oportunidade de começarem a perceber onde erraram e quais são os defeitos que as impedem de também obter sucesso.
O invejoso se torna inapto para o sucesso a partir do momento em que não sabe muito de si mesmo e, pela desonestidade de atitudes que este sentimento causa, a vontade de ver a destruição do outro desmerece as próprias conquistas.
O que você tem ou a forma como vive hoje pode ser o motivo da inveja de alguém, e o contrário disso também pode ser verdade, então o meu desejo hoje é que não sejamos invejosos a ponto de não perceber que há tempos o que nos traz alegria é, na maioria das vezes, desejar o mal para o outro, mesmo que justificado por “motivos nobres”, pelo simples fato de ser infeliz demais com a própria existência.
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