Ode a mim mesma! – Quem sou eu?
Entrevistas de emprego, dinâmicas de grupo, consultas com psicólogos e terapeutas, conversas filosóficas com amigos após alguns copos do elixir mágico (também conhecido como whisky), ou madrugadas de insônia…
A pergunta comum, feita em todos esses momentos: quem é você?
Quem sou eu?
Resolvi olhar para mim mesma, contudo de fora. Decidi que iria me descrever de um ponto de vista diferente, de alguém cuja opinião eu levaria em consideração.
Diante da minha personalidade nada singela, apenas uma pessoa seria capaz de falar de mim, de modo relevante: Nietzsche!
Me sentei fora do planeta, lá na Lua, ao lado desse meu grande companheiro, observando a mim mesma lá embaixo na Terra, e pedi a ele: me ajude a escrever sobre ela.
Eis a nossa produção literária:
Sou inconformada, inconformável, inconformante e totalmente fora de conformidade. Quem consegue não ser assim nesse mundo, é porque é igual a ele, já foi engolido por ele.
Se o mundo tentar me mastigar, vai acabar cuspindo, pois sou indigesta, indegustável e intragável.
O mundo tenta, tenta, tenta, mas eu continuo não sendo, não tendo e não cedendo.
Tenho asco, mas não tenho espaço. Em meu estômago isso tudo não cabe.
O mundo não me engole e eu não engulo o mundo. Não somos compatíveis.
Tente nos misturar e verá a água e o óleo se separando. E não adianta tentar aquecer essa mistura, porque meu ponto de ebulição é muito mais frio do que a média. Não me permito cozinhar aos poucos. Fervo rápido mesmo. E devolvo pra atmosfera tudo aquilo que ela tentou me fazer absorver.
Um incômodo, um piolhinho chato, que fica naquele lugarzinho indiscreto, coçando, cutucando, incomodando a região, a vizinhança. Suscito movimento, tem que coçar, me arrancar, porque enquanto eu tiver forças, eu vou picar, soltar minha saliva venenosa. E vai arder, vai coçar, vai inflamar.
E só vou passar o dia em que tomarem um remédio verdadeiramente eficaz, contra mim, meu mal e o de todo mundo.
Aí sim, eu pararei, me permitirei descansar, sem nada a dizer, sem nada mais pra pensar.