“Dor emocional não pode matá-lo, mas fugir dela pode. Permitir. Abraçar. Deixe-se sentir. Deixe-se curar. ”~ Vironika Tugaleva
Eu percorri o caminho deserto que me levava até minha casa. A música tocando no carro pesava sobre mim. O vento frio naquele dia de outono em Connecticut parecia uma piada cruel do destino.
Recentemente com o coração partido, eu senti lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas pelas terceira vez naquele dia, enquanto a dor da ausência daquela pessoa se fazia presente no meu peito.
Eu estendi a mão para uma amiga de confiança em busca de consolo. Soluçando de novo, eu mandei uma mensagem para ela, sabendo que ela iria decifrar a dor por trás da minhas palavras. Ela hesitou por um momento antes de responder: “Duh!”
Eu solucei novamente no meio de um susto, surpresa com a sua reação.
Ela continuou: “Permita-se sentir isso. Vai doer, mas a cada momento que você chora, você está trabalhando nessa dor. Cada momento que você está sofrendo, você está também se curando. A única saída é através da dor.”
Eu olhei para a tela do meu celular, digerindo suas palavras. Essa era a última coisa que eu esperava. Eu esperava ser mimada ou encorajada a olhar para o lado positivo. Eu esperava que ela me desse, nem que à força, uma casquinha de sorvete ou uma colher de brigadeiro de panela.
Isso foi diferente. Pela primeira vez em meu processo de luto, não me disseram para encobrir meus sentimentos com uma máscara cor-de-rosa.
Alguém em quem eu confiava estava me encorajando a sentir minha dor em sua totalidade. Através de seus olhos, minha dor era válida e produtiva – um passo necessário em minha jornada em direção à cura.
Seu reconhecimento direto do meu sofrimento foi a permissão que eu precisava para realmente sentir a minha dor, em vez de evitá-la. Em vez de me preocupar em não estar fazendo o suficiente para ser feliz, em vez de me preocupar que estava demorando muito para me curar, senti que estava fazendo tudo da maneira que devia.
Eu poderia celebrar o trabalho que eu estava fazendo em mim, mesmo quando este era feito através de lágrimas e soluços pela terceira vez naquele dia, durante o meu trajeto de volta pra casa.
Minha dor e meu luto tinham significado. Poderiam servir a um propósito. Poderia servir a mim.
Desde então, desenvolvi uma nova maneira de ver a dor: quando nos permitimos experimentar sentimentos dolorosos e desconfortáveis, estamos também crescendo.
Encarar nossos sentimentos e não procurar nos desvincular ou nos distrairmos vai na direção oposta disso.
Uma vez que aceitamos que estamos em processo de amadurecimento, podemos silenciar nosso crítico interno que acredita que sentir dor significa que estamos “fazendo algo errado” e, em vez disso, começamos a entender que sentir nossa dor é importante e produtiva.
Quando entendemos a verdadeira natureza desse processo, podemos nos ligar à compaixão enquanto nos movemos através de nossos sentimentos desconfortáveis no caminho para a cura, paz e a integridade.
Este quadro mudou minha vida. Eu apliquei isso às minhas emoções mais agudas, como desgosto, assim como as mais leves, como o desconforto.
No mês passado, em uma noite de sexta-feira, uma onda de ansiedade passou por mim. Em vez de mandar mensagens para meus amigos e organizar um encontro improvisado – uma maneira infalível de me distrair – liguei o aquecedor do meu quarto, vesti uma roupa quente, e fiquei debaixo das cobertas enquanto observava a chuva pela janela.
Foi desconfortável. Eu senti o aperto familiar no meu peito e minha respiração pesada.
“Você está completamente antissocial” Meu crítico interno gritou. “Você está chata. É sexta-feira! Você não está se esforçando o bastante.”
Eu respirei fundo e coloquei a mão sobre o meu coração. Eu estou trabalhando em mim mesma, pensei. Isso é importante. Eu mantive minha mão sobre meu peito e continuei focada na minha respiração e nesse pensamento.
Até que a voz desse crítico interno se tornou cada vez mais distante. Quando acordei na manhã seguinte, eu me senti orgulhosa de como resisti à tempestade da noite anterior. Aprendi que minha ansiedade era impermanente e, o mais importante, administrável.
Depois, vêm aqueles momentos mais sombrios de tristeza, os momentos em que ela consegue balançar até mesmo nossas bases mais fortes. Quando perdemos um ente querido. Quando a doença nos consome. Quando experimentamos uma tragédia tão emocionalmente excruciante que redefine nossa própria compreensão da dor.
Nesses momentos, quando não conseguimos encontrar um único raio de ação, podemos reunir coragem para sentarmos a sós com nossa tristeza. Podemos encontrar consolo na verdade de que simplesmente não há mais dada a fazer a não ser aceitar.
Experimentar nosso luto – mesmo que apenas por um momento de cada vez – é parte dessa evolução espiritual.
Este trabalho faz parte de viver nesta Terra, de ser humano e de sobreviver aos ritos de passagem universais que marcam nossas vidas a medida que envelhecemos.
Quando me sinto existencialmente perdida, isolada e convencida da insignificância da minha dor, aproveito para observar as pessoas à minha volta. Eu vejo pessoas andando de mãos dadas no parque, lendo livros de filosofia no trem ou tomando sol na praia.
De alguma forma, a grande maioria das pessoas ao meu redor enfrentaram tempos igualmente dolorosos. O mero fato de sua existência, quando tenho certeza de que estou a ponto de me despedaçar com alguma dor, é força suficiente para que eu queira encará-la e seguir em frente.
Antes de aprender o benefício de sentar com meus sentimentos, fazer um trabalho dessa natureza não me atraía. Por que afundar na tristeza quando você pode simplesmente fazer algo sobre ela? Eu me perguntava.
Quando me sentia desconfortável, encontrava uma maneira de ocupar meu tempo e distrair meu coração. Eu me sobrecarregava de trabalho e compromissos sociais, chamando um amigo após o outro, repetindo a mesma história dolorosa, nadando em círculos concêntricos em volta da minha dor sem nunca mergulhar.
Em retrospecto, é fácil ver que minhas “estratégias de enfrentamento” não eram necessariamente as melhores.
Quando nos distraímos da nossa dor com uma rajada de movimento, nós nos enganamos pensando que estamos produtivos. Nós somos vítimas da alta dependência da solução rápida. Mas, como qualquer trabalhador em qualquer campo lhe dirá, não há substituto para o bom e árduo trabalho. Trabalho que nos dá uma noção do nosso próprio valor intrínseco e produz resultados desejáveis.
O que suscita a pergunta: dada a inegável dificuldade dessa marca de trabalho, por que isso acontece? Qual é a recompensa para este esforço mental e físico?
Pessoas diferentes oferecerão respostas diferentes. Quanto a mim, sempre acreditei que nosso propósito nesta terra é viver nossas vidas da forma mais leve e bonita possível. Qualquer coisa menos que isso parece um terrível desperdício do dom da experiência consciente.
Acredito que, para viver essas vidas, devemos viver nossa verdade essencial. Viver a nossa verdade essencial significa fazer o esforço consciente para sentir o espectro da nossa dor. Significa dar-se permissão para sentir as emoções como elas são e livrar nossa vida das pressões para se conformar, realizar e autoiludir.
Quando agimos de acordo com nossos sentimentos mais profundos, nossas vidas se tornam mais simples.
Em vez de escolher constantemente como agir ou o que dizer – desencadeando quedas de ansiedade e insegurança – há sempre uma escolha: a escolha que é verdadeira para nós. A escolha que sentimos em nossos corações.
Da próxima vez que você estiver machucado, desconfortável ou solitário, sinta a sua dor. Sinta o máximo que puder suportar. Sua dor é um passo necessário em sua jornada para a cura. E lembre-se:
Você está fazendo o seu melhor. Você está se curando exatamente no ritmo certo. Você está fazendo um trabalho em si mesmo. Esse trabalho tem significado. Ele pode servir a um propósito. Ele pode lhe servir.
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