Naquela manhã andava incomodada com a visita da tempestade de tristezas. Nem os ouvidos do meu travesseiro estavam aguentando minha insistente ladainha de vitimização. Estava totalmente entregue aos braços da cama que me afagavam com seus lençóis carinhosos.
Em meio ao meu vendaval interior…lá fora também só chovia. Parecia até fazer simbiose com meus sentimentos.
Como de costume, diante de todo daquele temporal, fui buscar a pé meu filho de 6 anos em sua escola. O lamaçal durante o percurso só me ajudava a sentir raiva do quanto me atolava em vida. Ao chegar na escola, meu filho me recebeu com alegria.
Fomos juntos até o semáforo para atravessarmos a rua. E lá me deparei com uma mãe e seu filho já conhecidos. Ela reclamava da chuva e da lama para retornar com seu pequeno também a pé para casa. E eu de imediato concordei com a mesma. No entanto, meu filho nos interrompeu na hora e nos disse em voz alta:
– Mamãe! Mamãe! Olha lá do outro lado da rua aquela grama. Ela cresce por causa da chuva! Está verde por causa da chuva! E daqui a pouco sentiremos o perfume da terra!
O sinal abriu e eu ainda estarrecida tentando processar o que ele havia nos falado. E a mãe olhou para mim com um leve sorriso atravessando às pressas a rua e falou-me: – É…tudo tem seu lado bom! Seu filho está certo!
E somente após aquele momento havia entendido suas palavras! Ainda caminhando com ele ao lado dos grossos pingos de chuva nos molhando e da água suja que banhava nossos pés, comecei a derramar lágrimas. Um choro calado.
Refleti e percebi diante da sabedoria do meu pequeno que nada é tão ruim assim. Na verdade, depois deste dia enxerguei além. Vi que não existe lado bom ou ruim. Nós é quem temos a mania de sermos ambivalentes…de vermos tudo preto ou tudo colorido. O que existe de fato são ensinamentos que a vida nos traz. Aqueles ensinamentos difíceis que nos colocam em nosso “abrigo temporário” para chorarmos junto com a tristeza. Sim…ela não é ruim e nem boa, mas uma grande sábia que fica do nosso lado para fazermos uma introspecção dolorosa necessária. E ela só vai embora quando conseguimos transcender o título de aprendiz para sábio.
Pode sempre chover aqui dentro, mas descobri que há beleza na minha dor!
Izabella Procópio