Tem dias que parece que tudo virou de cabeça para baixo.
Se nestes dias a mente fosse uma casa com alguns cômodos, que representariam áreas de nossas vidas, e houvesse como vê-la, a imagem seria de uma bagunça total.
O que parecia estar em seu devido lugar caiu ou quebrou, papéis se misturaram, voaram, objetos se espalharam pelos quartos e corredores, fazendo uma grande sujeira, difícil de organizar. E assim ficamos em manutenção por tempo indeterminado. Operando, vivendo, trabalhando, nos relacionando, mas bem abaixo de nossa capacidade.
O que era de um cômodo está em outro, partes importantes sumiram quando vamos procurar por elas, o sistema operacional que controlava esta casa muito moderna, saiu do ar. E parece que ficamos em “tela azul”, esperando um comando para nos reconectar, o qual não temos nem ideia de qual seja, pois estava em um papelzinho, que voou com os outros. Caos. Quando o estrago é grande, a sensação de incapacidade é enorme, o que nos tira forças para arrumar toda essa bagunça.
Quanto mais corremos de um lado para o outro, mais espalhamos a sujeira. E, já sem o que fazer, sentamos no chão. O primeiro passo é descansar um pouco. Parar, para que toda aquela poeira baixe e a gente possa enxergar melhor. Nessas horas, sentados em um cantinho da casa onde achamos um pouco de conforto, olhamos o cenário.
Geralmente alguém que também já passou por este caos vem nos ajudar, seja porque pedimos, ou porque ele viu que a casa anda muito estranha, mesmo estando de fora. Mas ele só consegue dar um apoio, quem faz o trabalho pesado é você, pois há cômodos em que ele não pode entrar.
Outros que nem você mesmo entra, ou sabe que existem, nesta casa tão complexa e grande, que é a nossa mente.
Rotinas de limpeza e organização também são muito eficazes nestes momentos, como a meditação e a espiritualidade, que nos ajudam a ficar em paz, enxergar com clareza e ter forças para colocar a mão na massa. Com uma boa dose de paciência, ajudas aqui e ali, vamos acessando caixas importantes que nos auxiliam na organização.
Baús que guardam lições que já aprendemos, instruções escritas em pilares da casa, princípios erguidos ao longo da vida e que não se perdem na bagunça. Na arrumação, você tem a oportunidade de jogar fora o que não faz mais parte dali; pode adquirir coisas novas; novos hábitos que vão te ajudar a manter a casa arrumada por mais tempo e mais firme para evitar ser bagunçada por qualquer ventania.
É impossível não ter medo de que o caos volte em algum momento, de abrir a janela para entrar ar novo e assim correr o risco de uma nova tempestade. Impossível não ter medo de deixar entrar novos hóspedes, aqueles que sempre dizem que não vão bagunçar nada e, quando saem, vão esbarrando em tudo. Nunca mais seremos os mesmos. Mas, será que isso é ruim?
A casa muda a cada renovação dessas, e temos vontade de fechá-la, mas não precisamos trancar tudo. Basta que a gente tome cuidado, observe. Primeiro, que prepare a casa nos momentos de calmaria, para que esteja bem forte se um furacão chegar e, assim, o estrago seja o menor possível.
Segundo porque, dentro da casa, haverá uma mobília duradoura construída com material precioso, o autoconhecimento. De quem já passou por tantos furacões e conhece bem os cantinhos da própria casa. Esse é o lado bom das crises, que nos obrigam a fazer a faxina mental, renovar e reconstruir o que for necessário. Assim, rodamos nosso novo sistema e nos preparamos para novas intempéries, que são inevitáveis, mas nos encontram mais fortes.