Outro dia estava conversando com uma amiga, que também é coach, sobre o quanto as pessoas simplesmente deixam de viver e de fazer aquilo que realmente julgam ser o melhor para elas em função do que os outros podem pensar ou falar a respeito.
É como se, de repente, você soubesse exatamente o que tem que fazer ou por qual caminho seguir, mas, por medo de comentários negativos, críticas e julgamentos – ou mesmo por vergonha – você simplesmente não dá o passo.
É isso. Em nome de ter que dar satisfação sobre a sua vida e as suas escolhas, muitas vezes para gente que nem nos conhece direito, vemo-nos imersos numa onda de sofrimento, angústia e até revolta por fazermos não aquilo que clama a nossa alma e o nosso coração, mas, sim, aquilo que corresponde ao comportamento considerado “socialmente correto” e que atende às expectativas que foram criadas pelas outras pessoas ao nosso respeito.
E é nesse momento, no momento em que nos sentimos angustiados em relação ao que fazer ou para onde ir, que nos deparamos com a máxima: “Mas o que os outros vão pensar se eu fizer isso?”.
Quem são os outros?
Quando penso sobre as principais escolhas que tive que fazer na vida (dos três trancamentos da faculdade de Jornalismo, até me formar, ao pedido de demissão do mundo corporativo, para começar a empreender e trabalhar por conta própria), uma lembrança sempre me vem à cabeça: a preocupação excessiva que eu tinha com o que os outros poderiam pensar ou falar sobre o que eu estava fazendo com a minha vida.
Eu sei. Eu poderia facilmente mentir e dizer que pouco me importava com isso. Mas a verdade é que, por muitas e muitas vezes, me senti angustiada e até tolhida nas minhas escolhas em função desse medo gigantesco de ser julgada e criticada caso o tiro saísse pela culatra e desse tudo errado depois. “Desse jeito você nunca vai se formar”. “Desse jeito nunca será alguém na vida”. “Você nunca termina nada do que começa”. “Mais tarde, vai se arrepender”. “Você está perdendo muito tempo na vida, pare com isso!”.
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Por quantas vezes não escutei frases desse tipo? Por quantas vezes não me tranquei no banheiro e chorei copiosamente pelo medo enorme que eu sentia de todas elas? E se eles tivessem razão? E se eu estivesse, de fato, fazendo tudo errado? E se acabasse por me arrepender amargamente das minhas escolhas no futuro? E se eu fracassasse na vida e, como muitos me diziam, nunca conseguisse construir coisa alguma?
No dia em que pedi a minha demissão do mundo corporativo, lembro-me bem do misto de sentimentos que me invadia: de um lado, a alegria e o orgulho por ter topado assumir o risco, acreditado em mim mesma e me munido de coragem para me colocar em movimento e finalmente dar o passo; do outro, o medo enorme da coisa toda não sair da maneira que eu esperava e, um dia, eu ter que voltar com o rabinho entre as pernas para o mundo corporativo e ter que pedir o meu emprego de volta.
“Quer vergonha maior do que essa?”. “O que os outros vão pensar?”. Pois bem.
Depois de anos protelando uma decisão que já estava muito clara para mim – mas que eu morria de medo de tomar, por causa dos outros – entendi finalmente que quem me amava e se preocupava comigo, independentemente de concordar ou não com as minhas escolhas, continuaria me amando e se preocupando comigo. E estando junto, sabe? Assim, no gerúndio mesmo, para o que der e vier.
Aprendi também que pessoas com vidas interessantes e felizes não perdiam tempo julgando ou criticando as escolhas de pessoas que elas nem conheciam direito, simplesmente porque elas estavam muito ocupadas vivendo a própria vida. E assumindo as responsabilidades pelas suas próprias escolhas também.
Quanto aos outros, bem… Quem eram os outros? Nas minhas reflexões, poderiam ser:
1 – Pessoas que, não importa o que você faça ou o quanto se dê para determinada coisa, sempre vão nos criticar. Sério. Você pode fazer um sucesso estrondoso, ganhar todos os prêmios de todas as categorias de todos os concursos dos quais participar, ser o mais bonzão no seu trabalho, ou uma pessoa absolutamente carinhosa, amiga, bondosa, generosa. Nada importa. Pessoas assim sempre encontram um motivo, por menor que seja, para julgar ou criticar de alguma maneira. Porque a crítica, para elas, é uma das condições da vida. Seja por infelicidade, vazio ou o que for, elas simplesmente não conseguem não criticar alguém ou alguma coisa.
2 – Pessoas que o criticam justamente porque gostariam de fazer o que você fez ou está fazendo, mas que não têm coragem. É isso. Muitas vezes, o seu maior crítico externo é aquela pessoa acomodada ou medrosa demais para dar o passo. E que, por isso mesmo, ao invés de tomar uma atitude e mudar a própria vida, como ela, no fundo, gostaria de fazer, vai achar mais fácil te julgar e te criticar pela sua coragem do que se expor ao risco. Como diz Brené Brown, no livro “Mais forte do que nunca”: “Não há maior ameaça para os críticos, os céticos e os disseminadores do medo do que aqueles que estão dispostos a cair porque aprenderam a se reerguer”.
3 – Pessoas que nem o conhecem direito e que não têm a mínima ideia das suas batalhas internas e externas. Elas não conhecem a sua história, talvez nunca te viram pessoalmente ou, se já viram, o contato foi o mais impessoal possível. Talvez tenham ouvido falar de você porque alguém que elas conhecem te conhece também. Ou visto uma foto sua. Ou mesmo escutado o seu nome em alguma conversa. Geralmente, curiosas e muito enxeridas, são pessoas que não dão a mínima para você, mas que, mesmo assim, sentem-se no direito de dar opiniões sobre a sua vida e julgar e criticar as escolhas que você faz.
4 – Pessoas que você acha que vão criticá-lo, mas que simplesmente não vão. Sério. Talvez elas até o apoiem, mesmo que nem o conheçam. Ou, dependendo de quem sejam, não deem a mínima mesmo.
A partir do momento em que isso ficou claro para mim, a ideia do “não deu certo” ganhou novos contornos, muito mais claros, sólidos e sábios: deu certo até onde tinha que dar.
E importar-se demais com o que os outros poderiam pensar ou falar sobre isso era destruir a beleza que existe na vivência, no risco e no aprendizado que cada experiência nos proporciona na vida.
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Era não aprender.
Não existe isso de não deu certo! É incrível como a experiência ensina. E como esse conceito de que “não deu certo” é uma verdadeira falácia.
Hoje, quando olho para trás, percebo o quanto as minhas vivências em outros cursos na época da faculdade, como a Pedagogia e as Relações Públicas, bem como a formação no Teatro e todas as peças que apresentei sem ganhar um centavo sequer enriqueceram profundamente o meu ser humano e profissional, simplesmente porque, não fossem elas, eu não seria a pessoa que sou agora.
Se hoje eu posso ajudar com tanta propriedade quem está se sentindo perdido e infeliz com as suas escolhas de vida e trabalho, é porque um dia eu também já me senti assim. Caminhei por essa estrada, cruzei essa ponte, naveguei nesse barco e, muitas e muitas vezes, pode apostar, tive a nítida sensação de que ele estava prestes a naufragar.
Mas o que aprendi com tudo isso, principalmente após me libertar das amarras de uma “pseudo” segurança e estabilidade e me lançar no mundo empreendedor, é que, se alguma coisa lhe ensinou, mesmo que ela tenha vindo com a dor e chegado ao fim, é porque ela deu certo, sim.
Deu certo até onde tinha que dar. Simples assim.
Se lhe ensinou, se o transformou, se o fez refletir, se lhe acrescentou de alguma maneira, se o fez amadurecer, se hoje você faria diferente, se hoje você faria exatamente igual… Não importa. Deu certo.
Deu certo porque, se você viveu essa experiência, era porque ela tinha que ser sua.
Não existe acaso nem aleatoriedade nas leis do Universo. Deu certo. Deu muito certo.
Mesmo que você nunca mais queira passar por isso (prova de que te ensinou). E mesmo que ninguém compreenda.
Ou que muitos outros o julguem e o critiquem pelo que você fez ou deixou de fazer.
Porque chega uma hora na vida em que a gente entende: ou você vive de fato. E dane-se. Ou você apenas existe para dar satisfação. A escolha é sua. E aí, qual vai ser?
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