Em 2001, eu estava em Los Angeles e fui ao Universal Studios. O parque é muito parecido com o de Orlando, com um lado bem mais bacana que é estar localizado praticamente onde estão de fato os estúdios e proporcionar aos visitantes uma visita fantástica de trem por dentro dos barracões e sets de filmagem.
Lá também já estava a conhecida atração Terminator, do filme O Exterminador do Futuro, que eu vi novamente no parque da Flórida há pouco mais de um mês. Terminator mostra as máquinas tentando dominar o mundo. Roteiro mais óbvio que esse impossível. Antes de entrar na atração, há um filme mostrando uma máquina que faz carinho no bebê antes de dormir, proporcionando, assim, aos pais, o conforto de ficarem livres deste “compromisso”.
Aquilo parecia descabido naquela época, entretanto, hoje cá estamos nós cada vez mais distantes uns dos outros, vivendo tempos tão avassaladores quanto a revolução industrial e fadados a um mundo cada vez mais solitário, no qual as relações humanas presentes e reais tornam-se desnecessárias para as novas gerações.
No Vale do Silício, na Califórnia, região na qual está situado o maior conjunto de empresas do setor tecnológico, os funcionários trabalham em suas casas ou no local onde escolherem, sem necessidade de irem à empresa, de possuírem seus próprios escritórios e/ou espaços físicos. Não há mais contato entre os colegas de trabalho que não sejam os virtuais e todos sabem que as videoconferências têm sido cada vez mais comuns em quase todos os segmentos do mundo coorporativo.
Em nossas relações sociais, a situação também está bastante diferente. Famílias, amigos e colegas de trabalho costumam conversar muito mais pelos grupos virtuais do que por qualquer outro meio. As conversas por vídeo tão inverossímeis nos meus bons tempos de criança são comuns. Não andamos em carros voadores, mas os meios de comunicação estão iguaizinhos aos dos Jetsons.
Não nos falamos mais ao vivo nem metade do que nos falamos virtualmente e isso tem gerado nos adolescentes algo que me preocupa: a ausência da necessidade de estar perto para conviver. Eles não sentem como nós que assistimos aos Jetsons a necessidade de olhar no olho para bater papo, nem tampouco para fazer uma amizade ou se apaixonar. Eles não sentem a falta que sentimos de estar em bando, de ter contato físico. As relações virtuais têm bastado para os que nasceram junto com a internet.
A procura por atendimento psicológico virtual em minha caixa de e-mail e Fan Page é muito grande e quando explico que não faço este tipo de trabalho os mais jovens se espantam. Eu devo estar velha demais para conseguir atuar sem ter o outro em minha frente para que eu possa observar também seu comportamento não verbal. A mim, que nasci na década de setenta, relações e conversas virtuais ainda são passíveis de mal entendidos e de muita parcialidade. Entretanto, aos mais jovens ela tem bastado.
Assim como a revolução industrial extinguiu completamente a forma como o ser humano vivia, trabalhava e se relacionava, estamos diante de um novo modelo de sociedade, bastante dominada pelas máquinas dispostas a vigiar nossos bebês nos berços e porque não afagá-los quando for preciso.
E quanto mais o futuro vem, mais imploramos por um abraço, por uma companhia, por atenção e por carinho.
Quanto mais nos autoafirmamos como seres completos e felizes sozinhos, mais nosso inconsciente deixa escapar que o que mais queremos é uma companhia na cama e fora dela.
Quanto mais a nossa lista de amigos aumenta e se mistura nas redes sociais, menos amigos nós temos para dividir conosco a mesa, o lanche e os segredos.
Quanto mais conectados, mais solitários estamos.