Ela pensava que nunca conseguiria se separar e que jamais daria conta da rotina da casa sozinha, quando percebeu que já fazia isso havia muito tempo.
O casamento é algo complexo, que exige uma alquimia de sintonias e muito diálogo. Nem sempre as coisas estão afinadas a ponto de a rotina funcionar perfeitamente e, quando isso acontece, pode ser que um lado da balança esteja mais pesado que o outro.
Dividir tarefas de forma igualitária é um dos quesitos mais desejados pelas famílias, principalmente por quem, no fim das contas, se vê gastando mais tempo trabalhando que o outro.
Há algum tempo, a crença de que apenas quem trabalha fora é que está realmente “fazendo algo” era mais presente, o que fazia com que muitas mulheres se sentissem desvalorizadas no seio familiar, mesmo passando mais horas ocupadas do que seus parceiros.
O trabalho doméstico não é reconhecido pela sociedade como trabalho, e quando o é, sabemos que a remuneração é extremamente baixa.
Sem reconhecimento e sem hora para acabar, milhões de mulheres passam a vida se sentindo exploradas e sobrecarregadas.
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Atualmente, mesmo trabalhando fora, os afazeres domésticos ainda são feitos majoritariamente por mulheres, o que mostra que ainda existe muita exploração da mão de obra feminina.
Encarregadas de cuidar, limpar, cozinhar e, muitas vezes, ainda sendo assalariadas, relacionamentos vão para o ralo, sempre com a culpabilização feminina.
Um caso publicado no Scary Mommy fala justamente sobre isso.
Anonimamente, uma mãe compartilhou seu desabafo com a comunidade do site, explicando que o divórcio a fez perceber que viver sem o marido é muito mais fácil. A mulher explica que não tinha noção do quanto trabalhava, até sair de casa.
De início, ela acreditava que não daria conta de fazer tudo sozinha, a ideia de um divórcio a apavorava: como cuidar de duas filhas, uma casa, pagar contas e trabalhar fora?
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O medo de falhar era grande, mas ela comprou uma casa simples, instalou internet, água, luz, gás, montou os móveis sozinha, limpou o terreno e todo o local.
O medo de falhar somado ao estresse de uma mudança deu ainda mais forças a ela, que lutou muito para fazer com que suas filhas se sentissem seguras, independentemente do que estava acontecendo. A pequena casa foi transformada radicalmente em um lar, ela fez questão de arrumar tudo nos mínimos detalhes.
Depois de deixar a residência aconchegante e conseguir um trabalho, ela se sentiu mais relaxada com todo o processo.
As crianças estão se acostumando a ter duas casas e, por incrível que pareça, ela descobriu que cuidar do lar se tornou algo muito mais simples. Mas não um pouco simples, extremamente simples, como relata.
Ela percebeu que a casa se mantém limpa por muito mais tempo, que as roupas estão sempre bem cuidadas e ela tem muito mais tempo livre do que antes.
Mesmo com as crianças em casa ininterruptamente, a rotina ainda é mais tranquila e organizada do que antes. Ela nunca havia se dado conta do quanto se doava, demorou para perceber o contraste na carga de trabalho deles.
Seu relato não tem o intuito de apontar o dedo a todos os homens, ela tem certeza de que existem muitos companheiros por aí que não apenas trabalham fora, como também aliviam a carga de suas esposas.
Mas o seu ex-marido não era assim, e todos sabem que existem muitos iguais, alimentando a cultura do trabalho invisível e deixando toda a tarefa do cuidado nas costas das mulheres.
Antes de se separar, essa mãe era dona de casa, e percebeu que ficar o tempo todo em casa, basicamente significava que tinha “tempo livre” para lidar com todo e qualquer problema com os filhos ou com a própria casa.
Ela nunca havia percebido que a presença do marido, na verdade, significava que ela teria mais coisas para limpar, como se fosse sua funcionária.
A ausência da bagunça do marido é realmente a parte mais desconcertante de todo o relato. Ela nunca mais precisou lidar com sapatos no corredor, pilhas de lixo no balcão ou montanhas de roupas em locais aleatórios.
Não existem mais pratos sujos na pia, nem sequer das filhas, já que antes elas deixavam porque percebiam que o pai fazia o mesmo.
Ela revela que passou 15 anos implorando-lhes que lavassem os pratos, colocassem as roupas no cesto, e isso nunca aconteceu até o divórcio.
Ao mesmo tempo em que sua rotina ficou mais leve, ela passou a receber inúmeras ligações do ex-marido, que descobriu que não sabia fazer absolutamente nada sozinho.
Precisava ligar, se fosse marcar uma consulta médica, se algo acontecesse com o gás, e até para perguntar qual marca de leite as crianças tomavam. Até a quantidade de selos que precisava colocar em uma correspondência era motivo para telefonemas.
A mãe sempre suspeitou que a própria família estava causando uma quantidade desnecessária de trabalho, mas não imaginava que seria tanto.
E percebeu que, aparentemente, seu marido também era uma criança, mas torce para que seja capaz de se ajustar a todas as mudanças.
Administrar uma casa sozinho não é algo simples, e ela espera que ele fique feliz ao perceber o quanto de carga tirava dos ombros dele durante o casamento.
Esse trabalho extra não era sua obrigação, mas apenas hoje ela se dá conta disso. Enquanto isso, essa mãe aproveita sua casa muito mais leve e arrumada.