Quem nunca ouviu a velha frase “para curar um amor velho, é preciso de um amor novo”.
Até pouco tempo atrás eu nunca tinha avaliado de forma crítica essa espécie de crença popular e até achava isso meio poético. Entretanto, baseando-me em inúmeras experiências de pessoas próximas e, claro, minhas também, comecei a perceber essa declaração numa perspectiva bem preocupante. O que antes parecia poético agora vejo como, no mínimo, uma irresponsabilidade. Veja bem, como que uma pessoa está toda machucada emocionalmente e já sai em busca de uma nova história? Gente, isso é muito sério.
Defendo que, se alguém está vivendo um período ainda marcado pela dor da ruptura de um relacionamento, o mínimo que ele precisa entender é que precisa se reestruturar internamente. Sim, isso significa viver o luto dessa fase, não se pode negar a dor que se faz presente.
Todo término de relação é dolorosa, óbvio que a intensidade varia muito dependendo do grau de envolvimento, da força do vínculo etc., mas o desconforto é inegável. Sair machucado de uma relação e correr para os braços de alguém é, no fundo, um grande ato de covardia e imaturidade. Isso remete à ideia de uma criança com medo do escuro correndo para a cama dos pais no meio da noite. É pura fuga da realidade, não se iluda. Uma ferida precisa de tratamento, independente se no corpo ou nas emoções, é não se cura uma ferida tampando-a, pelo contrário, ela deve ser exposta e receber os devidos procedimentos, por mais que doa.
Não é justo uma pessoa triturada emocionalmente ir buscar abrigo nos braços de outra, pois pode ocorrer de essa outra estar inteira e preparada para uma relação, porém, chega um doente em sua vida, e talvez ela não tenha tempo hábil de perceber a doença antes de se envolver. Daí, uma vez envolvida, ela estará diante de um grande caos, afinal, o que esperar de alguém adoecido emocionalmente, ainda preso à história anterior? O doente não tem condições nenhuma de ofertar amor e os demais ingredientes indispensáveis a uma relação feliz. Ele estará ali apenas se escondendo do seu fracasso anterior, nada além disso. Nesse contexto, há uma enorme chance de o outro adoecer também, de desnutrição afetiva.
Eu não sei o porquê dessa agonia, as pessoas precisam aprender a tirar férias emocionais, precisam entender que não há mal nenhum em ficar um tempo sozinhas, ainda que esse tempo seja longo. Que mal há nisso? Sem dúvida, todo amor novo é maravilhoso e enche o nosso estômago de borboletas, porém, isso é um processo natural, acontece quando não estamos procurando.
Não podemos planejar o amor da forma como planejamos comprar um carro. O amor tem suas próprias regras e isso é que é mágico.
Sair apontando em todas as direções à busca de alguém só para não olhar para a dor que uma separação causou não é sensato. Está vivendo um fim de um relacionamento doloroso? Viva-o em sua integralidade. Vai passar, isso é fato, você vai estar em condições de amar e ser amado de novo, mas recolha-se, busque novos interesses, invista em amizades novas, viagens, novos hobbies. Quando você estiver pronto, aparecerão tantas opções que você nem vai entender. Sabe por que? Porque quando estamos bem resolvidos, ficamos irresistíveis, e isso não tem, necessariamente ligação com a nossa aparência física. Ficamos com a alma gostosa, iluminada, ficamos leves e isso é extremamente atraente.
Em contrapartida, quanto mais carente e desesperado estamos, mais as pessoas correrão de nós. Sei lá, parece que está escrito em nossa testa: essa pessoa é uma fonte de problemas, cuidado, tóxica.
É isso… é necessário coragem para vivermos os nossos lutos, eles tem muito a nos ensinar e também possuem muita beleza.
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