Areia, rocha, cristal – unos e distintos. Anos atrás, num momento extremo de esfacelamento pessoal, fui a uma palestra do Deepak Chopra em Curitiba. Teatro lotado. Silêncio total às palavras dele. Dentre as muitas coisas faladas, uma me marcou especialmente, tanto que carrego todos os dias este pensamento.
Não é todo dia que reagimos de forma violenta quando de um evento. Acredito que muita gente já tenha cogitado em jogar algo na parede, quebrar móveis e utensílios em um acesso de raiva, pelo menos uma vez na vida.
Sempre quis quebrar um copo na parede, juro. Imaginei até a situação:
– Cena 1: Uma discussão fervorosa ou uma decepção incontrolável. Fico sozinha repensando o fato e, como em uma cena de cinema, pego um copo de vinho – uma taça de cristal para ser mais elegante – e a atiro na parede. A taça se esfacela em mil pedaços pelo chão. Eu ali, parada olhando para os cacos e o vinho no chão.
– Cena 2: (Nunca aparece nos filmes). Eu, espumando de raiva, por ter que buscar vassoura e pá para varrer o lixo que eu mesma causei; colocando em uma caixa cuidando para não deixar cacos que possam ferir alguém; embalando a caixa com folhas de jornal como um presente e escrevendo em letras garrafais em caneta grossa: cacos de Vidro – cuidado.
A segunda cena acaba com a grandiosidade da primeira. Reconheço que existem ocasiões que essa vontade chega até a coçar na mão. Não é jogar na outra pessoa, diga-se de passagem (pelo menos nunca tive, ao contrário da vontade de esganar alguém). É na parede mesmo. Ver o vinho escorrendo vermelho, manchando a pintura, tal qual sangue. Pura metáfora!
A metáfora, neste caso, não é em relação à vida em geral. É com relação àquele sentimento. O sentimento ou vínculo quebrado. Despedaçado. Esfacelado. Em cacos tão pequenos algumas vezes que podem sair voando com um vento um pouco mais forte. Ao quebrar o copo é como se arrancássemos de dentro de nós os estilhaços de dor, de desespero, da angústia que nos fizeram desmoronar em um único instante.
Anos atrás, num momento extremo de esfacelamento pessoal, fui a uma palestra do Deepak Chopra em Curitiba. Teatro lotado. Silêncio total às palavras dele. Dentre as muitas coisas faladas uma me marcou especialmente, tanto que carrego todos os dias este pensamento. Foi como se ele estivesse falando para mim apenas.
A metáfora usada por ele era que não importa se estamos no nosso momento areia ou no momento rocha, somos a mesma substância. Rocha e areia, feitos do mesmo material.
O que os distingue é o resultado da ação do tempo, do vento, das “bordoadas que a vida dá” (ele não falou isso, estou acrescentando). Assim, por mais que estejamos nos sentindo desmanchados como a areia, nosso DNA é de rocha. Por mais que nos percebamos inteiros como a rocha, a ação do tempo, do vento, da água, das plantas, nos transforma sem que notemos as transformações num primeiro momento.
Quando se é rocha, isto é abrangente, vistoso. Entretanto, deve-se levar internamente a certeza das próprias partículas ‘grãos de areia’. E quando se é areia, espalhada pelo terreno, não se pode deixar de lembrar cada grão tem a força da rocha. Que pode se aglutinar e se transformar conforme a necessidade, conforme seja tocada.
Tenha presente a certeza que ainda que esteja vivendo seu momento areia existe a possibilidade de se tornar ainda mais especial, como a taça de cristal a ser jogada na parede.
Forjada da areia pelo calor, pelo sopro, pelo ampliar da nova forma. Areia, rocha, cristal – unos e distintos.
Namastê!
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