Quando era criança ouvia minha mãe dizer que quando a gente decide pôr o dedo na tomada, deve saber primeiro que ali é lugar de choque. Mesmo ela avisando sobre o perigo, eu insistia em enfiar o dedão lá, e depois saía chorando, sentindo os reflexos da corrente elétrica que percorrera parte de meu corpo.
Hoje eu não sou mais criança, mas ainda brinco com eletricidade. Ainda me atrevo a pôr o dedo, a mão, o corpo todo às vezes, na tomada, e até na hidrelétrica. A diferença é que hoje em dia as tomadas são as entradas e saídas da vida; a hidrelétrica são os problemas capazes de me afogar, e a corrente, bem, a corrente são as pessoas.
Cada vez que uma escolha é feita, abre-se um portal dimensional à sua frente. Portais não se abrem a torto e a direito; eles estão ali para te levar a algum lugar, mas você nunca sabe ao certo para onde irá, e isso, sem dúvida alguma, é o que nos faz querer sempre passar por eles.
Há portais que nos levarão a novas experiências, aprendizados e sabedorias. Há aqueles que levarão a conhecer mais de si mesmo e também do mundo. Há portais que mostrarão uma nova maneira de viver e de pensar, e isso o deixará bem. Mas também há aqueles que o levarão para caminhar descalço na areia quente da praia. Há os que estarão cheios de pregos, e ali, caminhando, você sentirá vontade de comprar um chinelo qualquer, mesmo que ele seja usado.
As escolhas sempre nos levarão a algum lugar, mas nem sempre esse lugar é onde queremos estar; às vezes, você vai parar onde precisa, para depois ir a um lugar legal.
Quando você escolhe amar uma pessoa que não o ama, por exemplo, automaticamente, você se permite ser levado a uma nova dimensão. Do portal que se abre à sua frente, há apenas uma certeza: você caminhará sozinho o tempo todo, e sentirá medo do caminho. Você vai se sentar para descansar, e vai acabar ficando ainda mais cansado, cercado pelos muitos pensamentos, lembranças, memórias e momentos inacabados.
Quando você escolhe iniciar uma nova faculdade, o portal da incerteza se abre, obrigando você a mais uma vez deixar para trás o que já foi começado, fazendo-o sentir a liberdade de algo novo e o peso de algo inacabado, ao mesmo tempo.
Quando sua escolha é abrir as mãos para que as amarras que o prendem ao que nunca o pertenceu, soltem-se, o portal da cura abrir-se-á, convidando-o a permitir ao tempo curar as feridas das mãos, do cérebro e da alma.
Você tem o direito de permanecer calado, mas terá de arcar com o vazio do silêncio. Você tem o direito a falar tudo o que pensa, mas terá que arcar com o peso de suas palavras. Perceba que em toda e qualquer situação, haverá uma consequência, e isso é o que, muitas vezes, impede-nos de decidir entre casar ou comprar uma bicicleta.
Tudo é questão de escolha. Você pode pintar as unhas de rosa, de azul, ou com os dois. Também pode escolher outra cor ou mesmo desistir de pintar as unhas. Você pode acertar a situação criada, pedir perdão e recomeçar, ou pode acumular dentro de você dúvidas, incertezas, inseguranças e um constante nó na garganta. Suas escolhas, suas consequências.
É sempre bom lembrar também que após realizar uma escolha e o portal se abrir, você terá de fazer outra escolha; agora é hora de decidir entre caminhar até o fim do portal ou abandonar a caminhada e fingir que nunca a iniciou.
Após romper um relacionamento, você decide entre permanecer distante ou permitir que essa pessoa retorne para seus dias. Após retomar uma amizade, a escolha é sua entre esquecer o passado e iniciar do zero ou encerrar ali, no aperto de mãos, e fingir que aquilo tudo nunca aconteceu.
E após isso haverá outras escolhas, e outras, e outras, pois vivemos em um constante ciclo onde somos afetados por nossas consequências, e para que haja tais consequências, é preciso antes haver escolhas. É preciso decidir entre mover ou permanecer imóvel; calar ou consentir; amar ou odiar; bradar ou adormecer em si, e assim, sucessivamente.
Suas escolhas, suas consequências. Sua vida, seus caminhos. Não há uma fórmula mágica para sempre escolher a melhor opção e com isso, passar pelo portal da felicidade. Mas se posso lhe dar uma dica, então, que seja esta: opte sempre pelo que grita mais alto em seu coração. Dê ouvidos àquela vozinha dentro de você que diz que aquela saia vermelha não combina com a blusa amarela. Ouça seu próprio interior; as respostas que você procura estão dentro de você. Suas histórias, aprendizados, quedas e levantes, tudo isso está armazenado em seu interior, esperando o momento certo para trazer à tona o quanto você cresceu nos últimos anos.
Permita-se ser seu próprio guia. Acredite em seus sonhos, naquela voz que grita dentro de você dizendo que já chega. Acredite em sua vontade de ser feliz, com certeza, você será.