“Derrota é perder quem amamos antes do fim, pelo fracasso da nossa comunicação. O resto é agradecimento.” (Fabrício Carpinejar)
Falamos tanto em desapego, em respeito ao espaço do outro, mas só quando sentimos na pele a necessidade disso é que podemos dizer realmente do que se trata. Tenho vivido um momento interessante. Meu único filho, já um homem de 19 anos, está espacialmente longe de mim. Gosto de frisar a distância geográfica, porque não me sinto longe dele por nenhum segundo.
Eu e Pedro moramos juntos até agora, só nós dois, desde que me separei de seu pai, quando ele ainda tinha 8 anos. Não me considero possessiva, superprotetora nem (excessivamente) emocionalmente dependente. Mas, recordando que nossa vida até aqui sempre girou em torno de sermos uma família completa, com viagens de férias, mudança de cidade, amores de pelos e muita cumplicidade, há de se entender o que esse momento representa.
Devorei – um pouco atrasada ou, quem sabe, pontualmente – “Cuide dos pais antes que seja tarde”, de Fabrício Carpinejar, e me emocionei com suas palavras: “Derrota é perder quem amamos antes do fim, pelo fracasso da nossa comunicação. O resto é agradecimento”, abordando sensivelmente as relações com os mais velhos, com os próprios pais e como o tempo transforma essas experiências, em alguns casos, tarde demais.
Tenho um bom relacionamento com meus pais, não os vejo sempre, mas existe qualidade em nossos encontros, em nossos almoços e cafés em volta da mesa.
Não foi sempre assim, mas já faz tempo que reconheci um amor sem explicação e que perdura além de qualquer coisa. Desejo ser assim para o Pedro também. Acredito que estamos no caminho certo.
Há muito tempo, não passávamos longos minutos ao telefone, com conversas em tom de desabafo e consolo, a despeito das muitas alegrias que ele desfruta com a nova vida. Desde alguns bocados de anos, não sentia tanto o amor da parte dele por mim, mesmo entendendo, algumas vezes, que existe uma discreta e inconsciente rebeldia interna nele e talvez em mim também pela ruptura do cordão que mantivemos até agora.
Sem contar os muitos ecos que a casa denuncia com uma ausência cheia de presença, agradeço à vida por essa experiência, agradeço por estar num momento de novas buscas e melhor entendimento do mundo ao meu redor, principalmente pela capacidade colaborativa que posso exercitar para acabar com o egoísmo que ainda me ronda. Além de ter mais uma chance de estreitar laços, reconhecendo que o tempo, assim como algumas distâncias, em vez de dissipar afetos, têm a missão de transformar o amor em algo melhor, maior e pulsante.
“Amor é como pano de prato. É o tempo que traz a experiência. É o tempo que ajeita as arestas. Amor velho é o que permanece, pois é o único que secará suas lágrimas.” (Carpinejar)
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