Advogado narra a triste história da perda de seus irmãos, vítimas de covid-19, em Manaus, e ainda ficar com uma dívida exorbitante com um hospital privado.
Nos últimos dias, temos acompanhado a triste situação do sistema de saúde em Manaus, capital do estado do Amazonas. Durante o fim do ano, a população, apoiada por muitos políticos, pediu que o governador Wilson Lima recuasse da decisão de decretar lockdown na região.
Durante as festas de Natal, Ano-Novo e as comemorações comuns nessa época do ano, muitas pessoas deixaram de cumprir as medidas de segurança.
O resultado não podia ser pior: hoje Manaus passa por um colapso no sistema de saúde. Os principais insumos usados para cuidar dos pacientes com quadros mais graves de covid se esgotaram.
Cilindros de oxigênio, equipamentos de proteção individual (EPIs) e até alimento, segundo informações da BBC Brasil, faltam para os profissionais que atuam na linha de frente.
Além da tragédia de acompanhar tantas pessoas adoecendo e o desespero visível no rosto de médicos e familiares, os hospitais públicos tiveram de recusar pacientes por chegar ao limite máximo da sua capacidade de internações.
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Sem leitos, as pessoas que precisavam de atendimento urgente acabaram internadas em hospitais privados. Agora, além de muitas vítimas do coronavírus, familiares têm contraído dívidas imensas por consequência direta da superlotação no sistema público.
O advogado Amaury Andreoletti vive essa situação. Vários membros de sua família, incluindo ele próprio, contraíram o vírus. Amaury ficou quatro dias internado e, felizmente, conseguiu se recuperar e voltar para casa. Porém, ele conta que viu a mãe, a irmã e o irmão serem internados de maneira simultânea, nas últimas semanas.
A mãe de Amaury, após duas semanas, teve alta do hospital estadual Delphina Aziz. Sua irmã, Gabriela, teve sucessivas crises de pânico na UTI superlotada do mesmo hospital, mas no dia 13 morreu vítima de complicações de covid.
Apenas quatro dias depois do triste falecimento da irmã, Amaury perdeu também o irmão, Victor. Ele não conseguiu vaga na rede pública e passou 18 dias internado, em estado grave, num hospital particular. Cada diária na UTI dessa unidade de saúde custa R$ 10 mil.
Agora, além de perder dois irmãos vítimas de covid, no espaço de três dias, Amaury também precisa pagar uma dívida de R$ 180 mil com o hospital particular, onde seu irmão esteve internado.
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Amaury conta que seu irmão precisou ser hospitalizado na véspera de Ano Novo. Naquele dia, sete dos onze hospitais particulares da capital amazonense já não tinham mais vagas, e nas UTIs públicas, a ocupação tinha chegado a 95%. Ele conta que o irmão estava em 59º lugar na lista de espera do estado. Como a situação só se agravava, ele decidiu colocar o irmão no primeiro hospital onde houvesse vaga, mesmo que fosse particular.
Além de se desdobrar para visitar todos os seus familiares, ele também tentou organizar formas de pagar a conta do hospital particular, que só aumentava. O advogado recebeu ajuda de colegas do trabalho e alguns amigos, que criaram um financiamento coletivo para ajudá-lo. Ele revela que vendeu carros, imóveis, mas que agora não tem mais como fazer isso.
De acordo com a reportagem da BBC, esse não é um caso isolado. Em Manaus, os hospitais privados têm cobrado o valor antecipado das famílias de pacientes com covid-19.
Esses valores ficam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. Sabemos que a maioria da população não possui condições de pagar nem sequer uma porcentagem desses valores exorbitantes, por isso o número de pacientes que morrem em casa também aumentou na capital – em média, 30 mortes por dia.
A morte de Gabriela Andreoletti gerou comoção, ela era produtora cultural em Manaus e conhecida de muitas pessoas. Amaury conta que a causa da morte dela foi parada cardíaca, pois estava completamente abalada pela situação da UTI.
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Ele afirma que cada morador de Manaus hoje tem um parente ou uma pessoa conhecida que pegou o vírus ou que faleceu. E revela que não ficaram juntos nas festas de fim de ano e que cada membro da sua família contraiu a doença num local diferente.
Amaury faz um forte apelo a todos os cidadãos brasileiros: fiquem em casa e só saiam quando for realmente necessário. Para ele, a realidade só bate quando um ente muito querido falece. Também pede que as pessoas não esperem chegar ao ponto de ver um parente ser internado para compreender a gravidade do que estamos enfrentando!
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