O premiado curta brasileiro mostra a importância da educação na vida das pessoas e escancara os efeitos da falta dela.
Para muitos, o estudo é um privilégio, no entanto, nós o enxergamos como algo “normal”, isso porque, desde os primeiros anos de vida, nossos pais ou responsáveis sempre foram atrás de escolas para nos matricular, para que crescêssemos tendo acesso aos conhecimentos que sabemos que são determinantes para o nosso desenvolvimento.
No entanto, se pararmos apenas um pouco para pensar sobre a realidade do nosso e de muitos outros países, perceberemos que apesar de ser um direito, o estudo é negado a muitas pessoas, pelos mais diversos motivos.
Uma das muitas razões do distanciamento das crianças dos bancos escolares está relacionada à própria forma de criação familiar. Para aqueles que vivem mais distantes dos grandes centros e que estão acostumados com uma vida mais rural, muitas vezes, parece que o estudo não tem muita importância e não leva a lugar algum.
Essas pessoas, que sobrevivem daquilo que produzem, costumam valorizar mais o próprio suor e o trabalho braçal do que o estudo, que em muitos casos realmente não faz parte de seu dia a dia.
Pensamentos como esse, no entanto, vêm de muito tempo, de uma sociedade que foi construída subestimando o poder da educação e que por isso ainda hoje tende a suprimi-la, sem se dar conta de todas as grandes oportunidades que poderiam ser alcançadas se o saber fosse introduzido na vida das pessoas desde muito cedo.
O curta-metragem em 3D “Vida Maria”, produzido pelo animador gráfico Márcio Ramos, em 2006, é um material muito interessante que trata exatamente dessa questão e nos dá muito sobre o que refletir.
A produção, que se passa no sertão cearense e foi vencedora de mais de 50 prêmios em festivais de cinema nacionais e internacionais, conta a história de Maria José, uma menina de 5 anos que passa por uma poderosa transformação.
No começo da história, ela está aprendendo a escrever o nome em um caderninho, e parece bastante animada com a tarefa. No entanto, não demora muito até que a sua mãe apareça, mandando-a parar de se concentrar nos estudos e fazer os trabalhos domésticos e na roça.
Maria José parece ficar chateada com isso, mas conforme o tempo passa, ela se acostuma à sua realidade. Casa-se, tem filhos, envelhece, e o ciclo se reproduz nas novas crianças da família.
No fechamento do curta, conseguimos perceber que a situação vivida e reproduzida por Maria José é uma tradição na família, e que a sua mãe, avó e outras antecessoras também tiveram esse sonho interrompido.
Algo muito interessante sobre esse curta é a identificação com o público, já que até mesmo os traços físicos dos personagens são parecidos com os da realidade. Além disso, a própria interrupção da infância para uma adultização forçada é algo que diversos pequenos precisam enfrentar todos os dias para ajudar na sobrevivência das famílias.
Quando a mãe de Maria lhe diz: “Não perca tempo ‘desenhando’ seu nome!”, é como se estivesse roubando todas as suas esperanças de quebrar o ciclo da família e construir um novo futuro para si mesma por meio da educação.
O curta também é muito bem-sucedido em mostrar o quanto essas influências da família acabam por internalizar nas pessoas que o estudo não deve ser prioridade. No entanto, também deixa claro que não é certo culparmos apenas só uma pessoa por isso, nos ajudando a enxergar que esse é um padrão e que muitas vezes os pais apenas repassam aos filhos, pois acreditam que aprenderam como certo.
A ausência da educação e as suas consequências para o futuro são os temas centrais desse curta, e é muito importante que esse material seja passado aos alunos e também aos seus familiares, para que haja uma reflexão e, esperançosamente, uma mudança na maneira como enxergamos essa realidade tão alarmante.