“Quando dou algo a uma pessoa e ela apenas agradece, é muito pouco. Mas quando fica radiante e diz: ‘é um belo presente’, ela agradeceu e honrou a mim e à dádiva.” (Bert Hellinger, p. 170)
As palavras sempre deveriam expressar o que carregamos dentro de nós. Mas nem sempre isso se dá de forma sintonizada, pois a sensação de que estamos sempre sob pressão de acontecimentos, sejam eles positivos ou negativos, faz-nos buscar “rituais” que aliviem nossas culpas, que nos iludam com a ideia de conexão com o lado bom da vida. Essa ilusão se reflete sobretudo no uso de palavras que não trazem o verdadeiro sentimento que a elas deveria estar vinculado.
Gratidão é um desses vocábulos. Há quem insista em repeti-lo, a cada segundo, a cada pessoa que encontra, como se essa prática fosse conectá-lo a um merecimento de coisas boas. Não é bem assim. Dizer que a gratidão nos inclui no grupo dos seres felizes, aqueles a serem presenteados por cada vez mais acontecimentos prazerosos, refere-se ao genuíno sentimento de gratidão e não ao vocábulo e seu uso indiscriminado.
A gratidão é algo que brota no corpo, porque é ali que os sentimentos existem. É na sensação de leveza do corpo e de calor no peito, no lacrimejar dos olhos, no arrepio da mandíbula, na sensação de sorriso que brota.
Gratidão é deixar-se inundar pela humildade de receber um presente sem merecimento, é “baixar a cabeça” e tomar com modéstia o que o outro ou o destino nos traz.
Essa é a única maneira de oferecer compensação pelo que recebemos, pois não seria possível pagá-lo. Dizer obrigada é muito pouco diante disso! Ficar alegre, radiante, dizendo internamente: que belo presente é esse! É honrar o outro, o destino e a dádiva recebida.
Este texto é um convite para abandonarmos o ato de dizer “gratidão” desprovido da alegria e humildade, pois esse é um substituto inglório e ineficaz da verdadeira gratidão.
“Compensar por meio do agradecimento humilde”
“Quando dou algo a uma pessoa e ela apenas agradece, é muito pouco. Mas quando fica radiante e diz: ‘é um belo presente’, ela agradeceu e honrou a mim e à dádiva.” (Bert Hellinger, p. 170)
Quanto aos presentes da vida, basta recebê-los com amor. Tudo bem agradecer com palavras, mas que essas sejam carregadas do seu real significado. É claro que não estamos falando de presentes materiais apenas, mas do amor, da companhia, da presença, do carinho, do sorriso, do apoio.
Cada vez que recebemos um presente imerecido, um presente que nosso subconsciente ou consciente julga grande demais, ficamos sob pressão.
É uma oportunidade que surgiu, é um bom negócio que me trouxe lucros, é um grande e encantador amor, é a recuperação da saúde, é um sorteio que ganhamos, tudo sem merecimento explícito.
Vemo-nos na situação de que é preciso fazer algo com isso! Mas e se, em vez de colocarmos limites para receber, propomo-nos a entrar no fluxo e fazer algo de bom com o que recebemos, passando adiante, por exemplo, servindo com alegria aos que nos cercam, naquilo que temos de melhor para oferecer? Isso basta!
Mas e quando o que nos acontece não é tão bom assim? Bom, se não houve antes merecimento, agora estamos livres da culpa. Submeter-nos ao destino, naquilo que ele traz de bom e naquilo que traz de mal é a chave da gratidão. A submissão é ato de humildade, que traz sintonia e liberdade. Estou sintonizada com o destino, livre de culpas e dores.
A liberdade está em poder se expor à realidade com confiança de que posso atrair bons acontecimentos tendo humildade, submissão e gratidão.
Não há nada de fraqueza nisso, como poderiam pensar alguns, há dignidade de se considerar sempre capaz de arcar com o próprio destino, assim, o destino pode ser mais leve, mais doce, pois não há soberba a ser aniquilada.
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