Tal e qual você, eu tenho aqui dentro de mim uma alegria que vai e volta, que muda com a lua, que troca de modo, de tamanho e de cor. Que faz tudo isso quando quer.
Ora é uma segura fogueira de festa junina, imensa, estalando fagulhas no quarteirão, exalando calor na vizinhança, crescendo e esticando as labaredas para o céu, feito braços estendidos na direção de Deus; ora é um foguinho de nada, uma brasa de palito de fósforo apagando, morrendo sozinha.
Quando é fogueira eu aproveito, trago lembranças e amigos para perto das chamas, sinto nossas almas aquecendo no fogo do encontro, faço festa, aproveito para ser feliz.
Quando é brasinha, quase cinza, eu me encolho junto dela, escondo-a entre as mãos, afago sua luz num sopro gentil. Faço o que posso e ela vive, ela sempre vive.
Aos poucos, renasce numa chama frágil, vira um foguinho manso, menino espoleta, depois vai crescendo confiante, tomando conta, alastrando-se até virar fogaréu de novo.
Hoje meu fogo andava triste, quase apagando. Então encontrei uma moça que havia tempo eu não via. Lá atrás, seguimos juntos um pedaço do caminho, num tempo em que as nossas alegrias se juntavam e acendiam fogueiras de acampamento, fogos de juventude, chamas de um tempo feliz.
Depois nos dividimos e fomos arder em outros cantos, separados, distantes, e a lembrança dela se apagou e escureceu em mim como carvão. Até que hoje eu a mirei de longe, por acaso, passeando na rua com o filho pequeno, feliz da vida, ardendo feito um incêndio.
Senti uma ternura tão grande por ela, por eles, um desejo tão firme de que sejam felizes, que a alegria acendeu de novo dentro de mim. Explodiu em combustão espontânea.
A vida é fogo e a alegria chama. Hoje uma chama nova ardeu e espalhou por aqui.
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