Não há quem seja ou esteja melhor do que nós, mas tampouco há quem esteja pior. Tudo o que há são pessoas com suas distintas histórias de vida, cada uma enfrentando a sua própria batalha cotidiana.
Em algum momento da vida, todos nos deparamos com pessoas que, com a finalidade de se sentirem por cima, nos diminuem, ao que a nossa reação, comumente, é nos inferiorizarmos para, em seguida, identificarmos em nosso agressor falhas que nos provem a sua inferioridade em relação a nós em algum aspecto, revertendo o jogo e nos devolvendo, assim, o amor-próprio. Embora seja esse um natural movimento da nossa mente, parecendo-me até conveniente a um conforto imediato, é bom que nos atentemos para o fato de que, ao cedermos a tal movimento, estamos nos reduzindo ao mesmo papel do agressor e, pior, enveredando-nos pelo perigoso caminho da comparação.
De modo geral, é só depois de muito sofrimento e já em avançada idade que nos damos conta – ou não – de que a vida não é uma competição, que – muito embora se apresente como um ponto forte no modus operandi da nossa sociedade capitalista – coloca a nossa autoestima numa espécie de elevador ao tomar o outro como referência. Eis o modelo que, ao passo que nos enfraquece como seres humanos, fortalece o sistema, originando a desigualdade, a corrupção, a guerra e afins.
Não há ninguém levando vida perfeita por esse mundo afora. Procure, pois lhe garanto que não vai encontrar. Sempre haverá quem disponha de qualidades que nos faltam, enquanto somos presenteados com aquelas que o outro não tem. Inteiros que somos, nós nos completamos enquanto humanidade. Tem gente que enfrenta questões econômicas, enquanto outros lutam contra problemas de saúde; tem gente que trabalha em prol de uma causa, enquanto outros sofrem por questões afetivas. O dinheiro, a saúde, o amor, a fama, a profissão, a família, a espiritualidade, a política… Em menor ou maior nível, todos estão enfrentando dificuldades em alguma dessas esferas. Há quem enfrente dificuldades em todas elas e esteja sofrendo, enquanto outro, em igual condição, está em paz consigo mesmo.
É que a vida é assim mesmo, e parar de perder tempo diminuindo ou tentando alcançar quem quer que seja libera uma imensa energia que podemos utilizar para o alcance dos nossos reais objetivos, a realização dos nossos sonhos, a conquista do incomparável tesouro que nos habita.
Não há quem seja ou esteja melhor do que nós, mas tampouco há quem esteja pior. Tudo o que há são pessoas com suas distintas histórias de vida, cada uma enfrentando a sua própria batalha cotidiana. Nesse contexto, em lugar de rebaixarmos ou enaltecermos quem quer que seja, convém que identifiquemos as áreas nas quais somos abundantes para, então, auxiliarmos o outro na superação dos seus desafios. Em algum momento da vida, essa ou outra pessoa nos dará a ajuda da qual necessitamos para enfrentar os nossos.
Em tempo, é preciso que nos atentemos para o fato de que, numa partida de futebol, vencer o time opositor é sim uma grande conquista, mas vitória maior é haver aprendido a lidar com uma bola, chegando à coragem de, em parceria com os demais, entrar em campo e encarar a partida. A maior vitória já se deu no momento em que entramos em campo, pois, mais importante que derrotar um suposto rival, é termos a nossa vitória sobre aquilo que realmente nos diminui e nos leva a fracassar: o medo, a preguiça, a indisciplina, a arrogância e afins. Nesse sentido, talvez possamos mesmo tomar a experiência de vida como uma metafórica competição, mas não contra o outro, e, sim, contra os nossos próprios conteúdos sombrios, almejando sempre a virtude, que, nessa perspectiva, se apresenta como o maior e mais valioso dentre todos os troféus.
Que os nossos objetivos sejam o nosso único e verdadeiro norte, e que sigamos tomados pela compreensão de que a única vitória que precisamos ter nesta vida é sobre nós mesmos…
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