Acolher-se com amorosidade: este é um assunto que me assombrou por muitos anos, herança da minha mãe talvez, mas ao longo dos meus 31 anos de vida, muita coisa já aconteceu por aqui.
Lembro-me de alguns episódios da minha infância em que passei por momentos de rejeição, seja com professores, pais de coleguinhas meus ou até mesmo com meus pais.
A verdade é que em minha construção existiram muitos momentos de real rejeição, e momentos nos quais interpretei que estava sendo rejeitada. A sensação de inadequação era muitas vezes tão grande, que, por vezes, acreditava que todos estavam me rejeitando.
Como era de se esperar, toda essa sensação reverberou em minha adolescência e vida adulta. Sempre achava que os meninos não olhavam para mim, que não era o suficiente para eles. Foi quando me vi querendo chamar a atenção em diversas situações. Eu precisava ser aceita!
Percebi-me entrando em cada enrascada, cada relacionamento abusivo e regado a mentiras e baixa autoestima de minha parte.
Esses relacionamentos eram uma mistura de vitimização com carência, onde, na maioria das vezes, eu me via extremamente pegajosa. Acho que acreditava que essa atitude faria, de alguma forma, com que eles gostassem mais de mim.
A grande verdade é que eu só estava alimentando ainda mais minha crença de que era rejeitada. Envolvia-me com garotos problemáticos, só para que de uma forma ou de outra eu confirmasse a mim mesma que era a vítima de mais uma rejeição.
Durante a adolescência, passei a não só me sentir rejeitada, como me rejeitava também. Palavras como “nada”, “inexistente” ou “desaparecer” faziam parte do meu vocabulário habitual, confirmando a crença e a sensação de rejeição que estava tão impregnada. Eu tinha a nítida sensação de que era desvalorizada, e por medo da rejeição, muitas vezes, não me posicionava, pois acreditava que perderia a pouca admiração que o outro tinha por mim.
Lembro-me de que, ao receber um simples elogio, muitas vezes, acreditava que o outro estava apenas me agradando, que não pensava algo positivo a meu respeito.
Obviamente que todo esse comportamento era inconsciente, possivelmente herdado de um padrão familiar de mulheres que foram subjugadas por muitos anos.
Até hoje, minha mãe conserva o padrão de se sentir rejeitada e inadequada. Recordo-me que cresci ouvindo dela que as pessoas não se importavam comigo, que eu poderia incomodar, que eu não era o suficiente, e por aí vai.
Claro que ela não me falou tudo isso com a intenção de me machucar, seu objetivo era de proteger sua filha de qualquer tipo de sofrimento, com base – é claro – na experiência de vida dela. De meu lado, demorei muitos anos para compreender esse seu comportamento, não aceitava que ela pudesse pensar assim, não aceitava sua forma de agir e pensar… queria mudar minha mãe de qualquer jeito.
Doce ilusão a minha, querer mudar uma pessoa, querer mudar a minha mãe. Uma pessoa que também herdou rejeição, desprezo e muita dor.
Tudo que sei hoje sobre minha mãe, ouvi de meus tios. Sei muito pouco de seu histórico, mas o pouco que sei me ajudou a entender a criança ferida que existe nela. Com isso, tenho curado processualmente a criança ferida que existe em mim.
Todos os meus comportamentos de vitimização e sensação de inadequação são trabalhados há bastante tempo em terapia. Foi, inclusive, de forma inconsciente, que decidi me tornar terapeuta, pois estou descobrindo o caminho para essa cura, transmitindo aos meus clientes todo o amor que existe em mim por essa missão.
Vira e mexe, pego-me com essa criança ferida, que se sentia rejeitada e inadequada, olho em seus olhinhos cheios de lágrima e acolho esses sentimentos em meu peito. Trago para perto de mim todos os pensamentos e ações que fortalecem essa criança a agir e tornar-se protagonista de sua própria história. Sou agente de minha transformação.
Acolho com amorosidade cada pedacinho ferido dela, aceito e olho para sua dor. Dessa forma, as sensações de rejeição e inadequação vão se dissolvendo, e aos poucos digo a mim e a minha criança ferida: “Está tudo bem! Você é amada, respeitada e querida. Está tudo certo, como certo é.”
Não há segredos, não há fórmulas mágicas. Eu aceitei que me comportava assim, aceitei que por muitas vezes fui e sou a vítima. Aceitei que por muitas vezes tive/tenho a sensação de inadequação.
A partir do momento em que aceitei isso em minha vida, tive o poder de mudar a rota e transformar meu caminho. Comecei a me tratar com amor e a priorizar as minhas necessidades (ainda em fase de aprendizados), pois isso é amor-próprio.
É essa construção de atenção e respeito por minhas escolhas que me ajuda nesse processo de cura. Dou o devido valor às minhas necessidades emocionais, que são imprescindíveis para meu crescimento, e passo a ter novos aprendizados, e consequentemente, crescimento.
Foram algumas Constelações Familiares em minha vida, para entregar para minha mãe e meus ancestrais todos os padrões e crenças que eu estava carregando com eles e por eles. Tenho ressignificado cada crença que me limita e que encontro em meu caminho. Diante de tantas curas que já aconteceram em minha vida, busco a cada dia proporcionar isso a meus clientes.
Escrevo tudo isso pensando em cada degrau de autoconhecimento que subi, cada expansão de consciência que tive. Escrevo, pois sou a primeira a me ouvir e enraizar meus processos de cura. Escrevo, pois conheço esse caminho, e só posso ensinar um caminho pelo qual já passei e conheço.
Dentro da minha bolha, já passei por centenas de episódios dolorosos, por isso posso afirmar que tenho empatia com a sua dor. Por esse motivo escrevo, não só para meu processo de cura, mas por saber que através de minhas palavras você poderá ter uma certeza: Que é possível sair disso e assumir as rédeas da vida, se tornar protagonista da própria história. Que isso não é autoajuda, não é balela.
É possível, desde que você aceite sua sombra e jogue a luz da consciência sobre ela.
Estou aqui, posso ajudá-lo nessa construção.
Com amor, graça e leveza
Queli
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