Adotada aos sete dias de vida; depois da descoberta desse fato, tardiamente, já adolescente, o preconceito a perseguia.
Era difícil revelar ser uma filha adotiva, que não tinha sido gerada pelas pessoas que conhecia tão bem. Revelar o ato era motivo de vergonha e, de fato, até então, ela não sabia que havia sido adotada. Foi nessa época, num momento de transformação e de dúvidas, numa discussão com seu pai, que o “segredo” manifestado a deixara surpresa. Não conseguia acreditar e entender a existência de algo sobre o seu passado que fora omitido.
A revelação, tardiamente, foi dolorida. Foram momentos difíceis, em que nada fazia sentido. A informação recebida era uma novidade, porquanto o tema adoção, à época, era um tabu e, por mais que tentassem lhe dar uma explicação, ela não conseguia entender.
A vergonha sentida, a relação estremecida e a angústia, durante um bom tempo, foram sentimentos vivenciados por todos.
Carregar o estigma de “filha adotada”, um “ser menos” era algo vergonhoso e, se alguém comentasse sobre a condição de “filha de criação”, uma vez que eram assim chamados os filhos adotivos, o pânico tomava lugar.
A tentativa de sua mãe, para fazê-la perceber o quanto aquele preconceito consigo mesma era equivocado, fora em vão, e ela demoraria para falar abertamente sobre ser uma filha muito amada sim, mas adotada.
Já adulta, veio o casamento e a geração de filhos, contudo a vergonha estava presente ao falar do assunto. Os filhos já crescidos, a universidade, o curso de Serviço Social e a paixão pela profissão a libertariam dos preconceitos que a perseguiam. O trabalho com adoção traria a ela a coragem de dialogar abertamente sobre a geração de um filho através do “encontro de almas” e a oportunidade de discorrer, na preparação para a adoção, sobre a importância da revelação.
Escrever essa história, mesmo que sucintamente, é acreditar que nada é por acaso e que o orgulho de ser fruto de um “encontro de almas” é verdadeiro.
Devemos ser gratos às pessoas que recebem alguém para chamar de filho, e que este ser não precisa ter nascido daquele ventre, mas está aqui para ser amado incondicionalmente.
Seja em sua própria vivência ou contribuindo na área e na luta para o encontro de uma família para cada criança ou adolescente, sempre estará presente um sentimento chamado amor.
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